Folha de S. Paulo


Preocupação no agronegócio vai além da greve de caminhoneiros

Mesmo que a paralisação dos caminhoneiros termine em breve, o setor de transporte e o agronegócio ainda terão muitos problemas à frente.

A situação atual é tão preocupante que as partes envolvidas no setor agropecuário silenciam para melhor avaliar os próximos passos.

Essa preocupação não é só interna. Chegou à China, e as comunicações entre produtores, exportadores e importadores aumentaram nos últimos dias.

Um dos participantes desse mercado disse que os chineses estão apavorados com a possibilidade de a soja não chegar a tempo dentro do período contratado com os brasileiros.

A preocupação é ainda maior por parte dos produtores, que, sem o transporte, não têm como escoar a produção. Principal produto brasileiro, a soja deverá atingir 94 milhões de toneladas. Pelo menos 48 milhões de toneladas desse volume sairão do país.

Do lado dos caminhoneiros, o aumento do diesel foi a gota d'água nos custos. A queda de margem deles fica evidente na participação dos fretes no transporte de soja neste ano.

Em fevereiro de 2014, o transporte de soja de Sorriso (MT) a Santos (SP) era feito por R$ 18,30 por saca. Neste ano, o valor recuou para R$ 14,70, conforme dados do site do Imea (Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária).

É difícil definir o que mais pesou nesse recuo, mas o fato de o país começar a vencer alguns gargalos da logística -embora ainda esteja distante do ideal- tem relevância.

Saída de parte da produção de Mato Grosso -o maior produtor do país- pelo Norte, utilização de hidrovia e de ferrovia em partes do percurso, melhorias em algumas estradas e melhores adequações dos portos de Santos e de Paranaguá (PR) permitiram essa redução.

O país depende basicamente das rodas de caminhões para o transporte, mas o próprio setor passa por mudanças. Com veículos com capacidade cada vez maior, o setor passa a aceitar margens menores e inviabiliza parte da frota mais velha, cujos proprietários viviam do transporte dos produtos do campo.

A saída, no entanto, não é engessar o mercado, com adoção de preços mínimos de referência, como o próprio governo admite avaliar.

A agricultura é importante para o setor de transporte, mas vive de altos e baixos. Segue as regras de mercado e tem a formação de preços ditada principalmente pelos mercados internacionais.

O transporte, com maior ênfase no que se refere ao setor agrícola, tem de se adequar a essas condições de mercado livre.

CÂMBIO

O setor agrícola, apesar da queda dos preços externos das commodities, ainda vive um bom momento interno. E isso se deve ao dólar.

Será difícil, mas, se a equipe econômica atual conseguir colocar a economia nos trilhos no próximo ano, os gritos estarão vindo do campo.

O setor estará vivendo o pior do mundos porque vai plantar com custos elevados, devido à perspectiva de o dólar continuar caro -o plantio de soja começa em setembro-, mas estará colhendo e vendendo com câmbio menor. E é exatamente a moeda americana que dá base aos preços internos das commodities.


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