Folha de S. Paulo


Dólar ajudará agronegócio, afirma Meirelles

Após viver um período de bons preços externos nos últimos anos, o agronegócio poderá enfrentar a partir de agora as benesses de um real desvalorizado.

Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central e presidente do conselho consultivo da J&F, diz que a alta do dólar vai trazer vantagens para exportadores e produtores brasileiros.

Na avaliação do ex-ministro, no entanto, após o ganho que o país teve com a estabilidade econômica, necessita continuar obtendo também ganhos na produtividade.

Qual a taxa certa do dólar? "Prever isso é um exercício ingrato", diz Meirelles. A taxa é resultado de uma série de fatores, e a melhor política é deixar o câmbio chegar a seu ponto, corrigindo eventuais desequilíbrios. Ele destaca que esses desequilíbrios podem ser excesso ou falta de dólar, dependendo do momento econômico.

O executivo da J&F destacou ontem na Feicorte, encontro do setor pecuário que ocorre em São Paulo, que as políticas de governo podem ajudar, principalmente no que se refere à logística, mas esse é um setor em que o produtor tem a liberdade de escolher o quanto e o que plantar.

Lula Marques - 03.jan.2011/Folhapress
O ex-presidente do BC Henrique Meirelles fala em Brasília
O ex-presidente do BC Henrique Meirelles fala em Brasília

Sobre a taxa de juros, Meirelles, como ex-presidente do BC, diz que não poderia se manifestar. Acrescentou, no entanto, que "a taxa adequada é a que traz a inflação para a meta fixada".
Ivan Wedekin, diretor-geral da Bolsa Brasileira de Mercadorias, diz que realmente a valorização do dólar traz ganhos para o agronegócio. O problema é que traz também custos,
principalmente para os produtos que dependem de insumos importados.

A melhora da economia norte-americana eleva o dólar, mas diminui os preços das commodities em dólares. No caso brasileiro, essa queda pode ser compensada pela alta interna do dólar, já que entram mais reais pelas mercadorias exportadas.

Essa lógica não vale para todos os produtos. Os custos das importações pesam mais sobre a soja, por exemplo, do que os que recaem sobre a pecuária, diz ele.

Para o diretor da Bolsa, o produtor tem de ter consciência de que a "lua de mel com os preços altos das commodities acabou". Os olhares devem ser para a microeconomia, acompanhados de uma boa gestão dos negócios.

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Custos A desvalorização do real vai trazer benefícios para o agronegócio, mas é preciso medir também os efeitos sobre a inflação. Ela pesa mais sobre trabalhadores e produtores.

Ajuste A avaliação é de Ivan Wedekin, diretor geral da BBM (Bolsa Brasileira de Mercadorias), feita ontem na Feicorte, feira da pecuária que acontece em São Paulo. Segundo ele, é preciso manter o ajuste macroeconômico de inflação baixa.

Não é bom A passagem da marca Seara do Marfrig para o JBS não é bom para os produtores, segundo Luciano Vacari, da Acrimat (Associação dos Criadores de Mato Grosso).

Enfraquece Segundo ele, o Marfrig perde uma marca forte e terá de "batalhar muito para conseguir outra". Já o JBS passa a ter mais uma marca forte.

Soja Pela primeira vez as exportações de soja em grãos deverão superar o volume a ser esmagado neste ano, segundo a Abiove.

Venda externa A associação, que congrega as indústrias do setor, prevê exportações de 39 milhões de toneladas, enquanto o processamento de soja será de 37,2 milhões.

Receitas As exportações do complexo soja deverão atingir US$ 28,4 bilhões no ano, acima dos US$ 26,2 bilhões de 2012, segundo a associação das indústrias. A soja em grão rende mais, somando US$ 20,3 bilhões.

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Em baixa

Preços das commodities encerraram o dia com forte redução ontem; a prata liderou as perdas, com -8,32% em NY.


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