Folha de S. Paulo


Rótulo de excepcional na vitória e péssimo na derrota precisa acabar

Yves Herman/Reuters
Tite comemora gol com jogadores da seleção brasileira

Em um período do futebol brasileiro, dois tipos de jogadores eram muito elogiados e desejados pelos clubes. Um era o centroavante alto, forte, grosso, estático, que jogava por uma bola cruzada na área. Outro era o volante brucutu, também grosso, parado à frente da zaga. Desarmava, muitas vezes com falta, e demorava mil anos para dominar a bola, ajeitar o corpo e dar um passe errado de cinco metros.

O volante e o centroavante continuam essenciais, desde que, em grandes times, tenham habilidade e mobilidade. O centroavante, além de artilheiro, precisa ser também um centroavante armador, que drible, troque passes e abra espaços.

O volante, além de marcar bem, necessita ter um rápido e eficiente passe, curto e longo, de preferência para frente, para o companheiro receber a bola com a defesa ainda desprotegida. Há vários, como Casemiro. No São Paulo, ele já fazia isso, mas os "entendidos" criticavam, diziam que ele era lento, marrento e que queria fazer a função de meia.

Na partida entre Grêmio e Real Madrid, o trio de meio-campo do Real, formado por Casemiro, Modric e Kroos, deu uma aula de talento individual e coletivo. Pressionavam e tomavam a bola com facilidade. Raramente erravam um passe. O Grêmio não trocou dois passes nem deu um chute a gol. Como escreveu o mestre Juca Kfouri, o futebol brasileiro parou no tempo.

O Brasil já tem 15 jogadores certos na Copa. Dois goleiros (Alisson e Ederson), três zagueiros (Marquinhos, Miranda e Thiago Silva), dois laterais (Daniel Alves e Marcelo), quatro no meio-campo (Casemiro, Fernandinho, Paulinho e Renato Augusto) e quatro na frente (Neymar, Coutinho, William e Gabriel Jesus).

Além dos 15, Tite terá de definir três reservas imediatos, dois para as laterais e um na posição de centroavante. Os mais prováveis são Danilo, Filipe Luís ou Alex Sandro e Firmino. São os 18 que Tite conta na Copa.

Faltam cinco para completar os 23. São reservas de emergência, que têm poucas chances de jogar, pois não são os primeiros substitutos de cada posição. Devem ser Cássio para o gol, Jemerson ou Geromel para a zaga, Giuliano para o meio-campo (prefiro Arthur), Douglas Costa ou Taison de atacante pelos lados e mais um, entre os que têm sido chamados e que estará melhor na época da convocação, como Luan, Lucas Lima, Douglas Costa ou Taison, Diego, Diego Souza ou Diego Tardelli.

Os Diegos são todos nascidos em 1985, provavelmente, homenagem ao mais famoso dos Diegos, que brilhava na época, Maradona.

Dificilmente haverá surpresa. O pragmático Tite não tem esse hábito, obcecado pela meritocracia. Poderia ser um jovem, promessa de craque, como foram Ronaldo, em 1994, e Kaká, em 2002. Vinícius Júnior seria um candidato, se tivesse brilhado no time titular do Flamengo, a não ser que arrebente no início do ano.

É óbvio o excelente trabalho de Tite na seleção. Mas não tanto para chamá-lo de gênio nem para achar que, com ele, o Brasil já papou o título. Já avisaram os adversários? Todos os grandes treinadores do mundo tiveram períodos próximos de sucesso e de fracasso.

Isso não significa que foram excepcionais nas vitórias e péssimos nas derrotas. Há dezenas de fatores envolvidos nos resultados. É uma ilusão achar que os técnicos ganham ou perdem por uma tacada de mestre ou por uma espirrada do taco. Mas dá ótimas manchetes.


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