Folha de S. Paulo


O Grêmio tem muitas virtudes, mas, em dois jogos, não há favorito

Dolores Ochoa/Associated Press
Jogadores do Grêmio comemoram gol na semifinal da Libertadores
Jogadores do Grêmio comemoram gol na semifinal da Libertadores

Na Copa de 2006, percebi que o futebol tinha mudado. Predominavam o jogo com dois toques e a troca de passes, para não perder a posse de bola. Os dribles eram raros. As seleções, quando perdiam a bola, voltavam para marcar, geralmente com duas linhas de quatro. Quando a recuperavam, tentavam avançar, mas tinham enormes dificuldades de chegar ao ataque. Era um futebol chato, com poucos gols e pouca emoção.

Nos últimos 11 anos, o futebol melhorou muito, seguindo o mesmo modelo. Os times passaram a trocar passes e a contra-atacar com mais velocidade e eficiência, a defender e atacar com mais jogadores, a driblar mais próximo da área adversária e a pressionar, em todo o campo, quem estiver com a bola.

No Brasil, essa mudança começou com o Corinthians, com Mano Menezes e Tite. Durante um período, o time era chamado de "empatite", por empatar muito por 0 a 0. Tite evoluiu, e a equipe passou a jogar um futebol moderno, eficiente na defesa e no ataque. Carille segue o mestre.

Por causa do Corinthians e do 7 a 1, os times brasileiros tentam seguir o mesmo modelo. O Grêmio é o que, com frequência, mais agradou, com mais troca de passes e mais competência, na defesa e no ataque, sobretudo quando tinha Maicon e Pedro Rocha, além de Luan. Nesta quarta (22), em casa, contra o Lanús, pela Libertadores, o Grêmio vai pressionar, mas sem deixar de voltar para marcar, quando perder a bola.

Muitos times brasileiros marcam bem, mas não conseguem chegar ao ataque com talento e muitos jogadores. Isso não ocorre porque adotam a retranca e querem dar a bola ao adversário, mas sim porque falta qualidade individual. Foi o que ocorreu também com a Inglaterra, no recente amistoso contra o Brasil, por causa da ausência de todos os seus bons jogadores do meio para frente. Além disso, a seleção marca bem e recupera rapidamente a bola.

A marcação alta, adotada pelo Palmeiras, com o novo técnico Alberto Valentim, que prefiro chamar de marcação adiantada, pois alta é para cima, deixa muitos espaços nas costas dos últimos defensores. Assim, o time levou alguns gols e poderia ter sofrido muito mais. Essa foi uma das razões dos maus resultados do treinador Cristóvão Borges. É uma prática moderna, mas não é tão utilizada por muitos clubes europeus. No Barcelona, costuma funcionar bem, porque a equipe, quando perde a bola, pressiona e a recupera rapidamente, para evitar o contra-ataque, com lançamentos nas costas dos defensores.

Por outro lado, marcar muito atrás dá chance para o adversário pressionar e cruzar bolas na área. Prefiro uma solução intermediária, com os zagueiros posicionados na mesma distância da área e do meio-campo.

Os ótimos treinadores não são apenas os que conhecem muito bem as informações e as estratégias e executam bem o que foi planejado. São também os que fazem as escolhas certas, nas contratações e escalações. As preferências e opiniões variam, para cada técnico e comentarista, mas não podem ser justificativas para avaliações e opções claramente equivocadas.

A estatística ajuda a analisar e a comparar jogadores e times, mas tem sido usada, com frequência, com pequenas amostragens e de maneira abusiva, absurda. A verdade está também nas entrelinhas, na subjetividade, no que está encoberto, até que ela se desnude e seja descoberta. Aí, tudo se torna claro, óbvio.


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