Folha de S. Paulo


Brasil vive tempos de desesperança, acordões e intolerância

Robson Ventura/Folhapress
Lance do jogo entre São Paulo x Corinthians, pelo Campeonato Brasileiro
Lance do jogo entre São Paulo x Corinthians, pelo Campeonato Brasileiro

O Corinthians continua perdendo pontos e, mesmo assim, mantém a ótima vantagem de nove pontos sobre Grêmio e Santos. Existem dezenas de teorias para explicar a queda do Corinthians. Isoladamente, nenhuma convence.

A mais frequente é o comentário pronto, presente sempre que um time que estava muito bem piora, de que os adversários aprenderam a enfrentá-lo. Parece até que o Corinthians tinha segredos que foram desvendados. O time usa, no segundo turno, a mesma estratégia do primeiro, porém, com resultados e desempenho ruins.

O nível técnico do Brasileirão está muito fraco, por falta de talento individual, condutas viciadas e ultrapassadas e porque os técnicos têm pouco tempo para formar bons conjuntos, álibi que, em muitas situações, não se justifica.

A nova desculpa dos técnicos, dita por Cuca, que já tem vários seguidores, é a de que o treinador precisa formar o elenco.

No empate entre Sport e Atlético-MG, havia, nas duas equipes, um grupo atrás e outro na frente, que não se misturavam, com enormes espaços no meio-campo. Parecia até um jogo de 20 anos atrás.

Oswaldo Oliveira tem a desculpa de que tem pouco tempo de trabalho. Luxemburgo, nem isso. Outros times brasileiros mostram a mesma deficiência. As duas equipes de que mais gostei na última semana foram Bahia e Vitória.

Alguns poucos times fogem à regra. São organizados, compactos, como Cruzeiro, Botafogo e Corinthians, mesmo com resultados ruins. Todos marcam muito bem. A dificuldade é ter a bola. O Grêmio, durante um período, quando tinha Maicon, Pedro Rocha e, sobretudo, Luan, fazia muito bem as duas coisas. O Botafogo é a equipe com o melhor custo-benefício, a que joga melhor em relação ao valor e qualidade do elenco. O Vasco também melhorou com Zé Ricardo.

Repito, equipes desorganizadas, sem aproximação dos jogadores, são, em geral, pouco vibrantes, como o Flamengo. Isolamento leva à falta de união técnica, física e emocional.

O São Paulo ainda luta contra o rebaixamento. Dorival Júnior tem adotado um sistema tático ousado, idêntico ao do Manchester City, com apenas um volante (Petros) e um armador de cada lado (Hernanes e Cueva), que são muito mais ofensivos que defensivos.

Há também jogos ruins na Europa. O clássico inglês, entre Liverpool e Manchester United, foi fraco. O Manchester, dirigido por Mourinho, parecia um time brasileiro. Todos voltavam para marcar, mas, quando tinham a bola, chegavam pouco ao ataque. Lukaku ficava isolado, como os centroavantes do futebol brasileiro, sobretudo Guerrero. Além de suas grandes virtudes, Gabriel Jesus foi para o time certo, o City, que cria inúmeras chances de gol.

Apesar da maior segurança se continuar no Cruzeiro, dizem que Mano Menezes está seduzido pela proposta do Palmeiras e por trabalhar em São Paulo, onde será mais notícia, mesmo que não haja diferença de importância entre os dois clubes.

Não dá para entender o que ocorre no Cruzeiro. O presidente eleito, apoiado pelo atual, contratou um diretor, por indicação dos Perrellas, que apoiava o candidato da oposição. Parece com os conchavos de Brasília. Os Perrellas continuam presentes no Cruzeiro, no Congresso e no Ministério do Esporte. É o país da desesperança, dos acordões, da intolerância e também da falta de liberdade de expressão cultural.


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