Folha de S. Paulo


O futebol precisa de profissionais sérios e eficientes

Lucas Uebel/Vipcomm/Divulgação
Porto Alegre, 18/07/2011 - Coletiva de despedida do técnico Paulo Roberto Falcão do Internacional. FOTO: LUCAS UEBEL/VIPCOMM ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
Falcão não treinou mais nenhum clube após deixar o Internacional em 2016

Falcão, um dos grandes da história do futebol, foi o entrevistado nessa semana do "Bola da Vez", da ESPN Brasil. Era eficiente e brilhante, de uma área à outra, antes de haver a nefasta divisão no meio-campo, entre os volantes que marcam e jogam do meio para trás e os meias que atacam e jogam do meio para frente. Falcão era mais técnico que intuitivo. Executava, com extrema competência, os fundamentos técnicos e tinha uma enorme lucidez para fazer as escolhas certas. Como ele disse, conhecia as notas. Não tocava de ouvido nem jogava de improviso, embora também fosse habilidoso e criativo.

Essas características e qualidades facilitaram seu sucesso na Itália, país fascinado pela técnica, pela forma e pela disciplina tática. Não sei por qual razão não se tornou treinador na Itália.

O talento de Falcão, a capacidade de enxergar o jogo e o nível cultural, intelectual, maior que a média dos atletas, indicavam que ele se tornaria um grande treinador. Por que isso ainda não ocorreu? Ainda há tempo. Por que não aparece o nome de Falcão nas listas feitas pela imprensa de candidatos a substituir treinadores dispensados pelos grandes clubes brasileiros?

A imprevisibilidade do futebol e as dezenas de fatores envolvidos nos resultados fazem com que um técnico com menos conhecimento tenha mais sucesso que outros teoricamente superiores. O tempo em que Falcão comandou times foi também pequeno. Qualquer profissional, ainda mais um treinador de futebol, com tantas variáveis, só pode ser bem avaliado pela média de seus trabalhos durante médio e longo prazo.

Muitos ex-craques, por serem, geralmente, famosos e ricos, não aceitam começar a carreira de técnico em times do segundo escalão ou como auxiliares. Alguns abandonam a profissão após alguns insucessos.

Outros não assumem, não se preparam nem se identificam com a nova atividade. São fascinados pelo passado. Há ainda os que têm receio de perder o prestígio conquistado como atletas, ainda mais se forem treinadores de clubes em que brilharam. Não penso assim. Rogério Ceni e Falcão, dispensados por São Paulo e Internacional, serão eternos ídolos.

Imagino ainda que o fato de Falcão ser uma pessoa elegante, como era nos gramados, ter sido empresário de moda e ser educado, fino, desperta em muitos o preconceito de que ele não é um técnico popular, prático, que fala a "linguagem dos boleiros", mesmo tendo sido um atleta agregador, líder e um estudioso do futebol.

Há outras opções afins para os ex-jogadores que se preparam tecnicamente, como supervisor, diretor, coordenador técnico, gestor, nomes e funções não muito bem definidas na prática. O futebol precisa de pessoas sérias, competentes, sejam ex-atletas ou não.

CONTRADIÇÕES

O PSG ambiciona ter o melhor time do mundo, por meio do talento de Neymar e de um megamarketing para transformá-lo no maior astro do planeta. A transação só foi possível por causa do dinheiro do Qatar, que tem no PSG um de seus braços para conseguir prestígio. É também uma tentativa do país de amenizar as acusações de crimes, como o de comprar votos para sediar a Copa de 2022, de ter trabalho escravo e de ajudar o terrorismo, que ameaça Paris. A Qatar Airways patrocinava o Barcelona. São as contradições, absurdos, da força do dinheiro. Neymar, sem ter essa consciência, faz parte de tudo isso.


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