Folha de S. Paulo


Guardiola também erra, mas parece proibido criticá-lo

O Flamengo, contra Grêmio e Cruzeiro, teve mais posse de bola, mas encontrou duas defesas muito organizadas. O time criou poucas chances de gol. Continua ruim a transição da defesa para o ataque. A esperança de evolução está em um melhor entrosamento da dupla Diego e Éverton Ribeiro.

Se o técnico do Flamengo fosse Guardiola, o time jogaria com apenas um volante centralizado, Diego de um lado, Éverton Ribeiro de outro, um centroavante e mais dois jogadores abertos. Assim, atua o Manchester City. Não sei se daria certo.

Na derrota em casa para o Grêmio, disseram que o problema havia sido a ausência de Guerrero. Contra o Cruzeiro, ele teve atuação apagada. Quando faz um gol e o time vence, Guerrero, um bom centroavante, é bastante elogiado, como ocorre com todos os artilheiros. No Brasil, se um zagueiro alto e bom nas bolas aéreas jogasse de centroavante, também faria um gol a cada dois ou três jogos, já que a maioria das jogadas ofensivas decorre de cruzamentos pelo alto.

O Cruzeiro, contra o Flamengo, jogou mais atrás, porém teve mais chances de ganhar. Após sofrer nove gols em três partidas, Mano Menezes prometeu e cumpriu que isso não mais aconteceria. Por outro lado, muitos torcedores criticam o técnico por atuar, mesmo em casa, com pouca ousadia.

Continua a discussão se, para vencer, é melhor pressionar, ter a bola, ou recuar para contra-atacar, dar a bola ao adversário. Ganha-se e perde-se das duas maneiras. O futebol é muito mais complexo que um clichê.

As grandes equipes europeias evoluíram e usam, em um mesmo jogo, de acordo com o momento, as duas estratégias. O Real Madrid é ótimo no contra-ataque e quando pressiona. Corinthians e Grêmio são os brasileiros que mais se aproximam desse modelo. O Palmeiras, que enfrenta nesta quarta (19) o Flamengo, tem um estilo indefinido, mistura o moderno e o tradicional, a emoção e a razão, que agrada e desagrada.

O Barcelona, influenciado por Guardiola, tenta sempre ser o protagonista, porém sofre muitos gols e tem mais dificuldades de vencer fortes adversários. O Manchester City, dirigido por Guardiola, foi eliminado pelo Monaco da Liga dos Campeões porque não se preocupou com a força do ataque do time francês. Guardiola, o mais criativo dos técnicos, também erra. Parece proibido criticá-lo.

Não pense que mudei de lado, que agora morro de amores pelo futebol defensivo. Aprecio mais a beleza do jogo e o estilo mais ousado. Porém, isso não me impede de elogiar e reconhecer os méritos de quem é bom na defesa.

A tendenciosidade atingiu, no Brasil, níveis absurdos em todas as áreas. Um grande número de pessoas enxerga apenas o que quer e/ou o que lhe interessa. O país vive uma epidêmica cegueira.

MEIO-CAMPISTAS

O futebol brasileiro perdeu, para os europeus, dois jovens de talento, Douglas, do Vasco, e Thiago Maia, do Santos, representantes de um tipo de armador que tinha desaparecido de nossos estádios. Marcam, avançam com habilidade e criatividade, têm bom passe e atuam de uma intermediária à outra. Não são volantes nem meias. São meio-campistas. Existem outros, embora os técnicos brasileiros continuem dependentes da formação com dois volantes em linha e um meia de ligação, único responsável por toda a armação de jogadas.


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