Folha de S. Paulo


Não se pode viver do passado, nem ignorar sua importância no presente

Martin Meissner/Associated Press
Jogadores da Alemanha comemoram título da Copa das Confederações
Jogadores da Alemanha comemoram título da Copa das Confederações

A Alemanha não venceu a Copa das Confederações com um time apenas de jovens e de reservas, como tanto falam. Havia quatro titulares, que têm disputado as eliminatórias para a Copa: os alas Kimmich e Hector, o atacante pela esquerda Draxler e um dos três zagueiros, geralmente Mustafi. Outros que atuaram são reservas habituais do time principal, como o goleiro Ter Stegen, os zagueiros Ginter e Rüdiger e o volante Rudy. As novidades foram apenas o centroavante Werner, o atacante pela direita Stindl e o volante Goretzka.

O comentário frequente, de dividir os times entre os que propõem o jogo, expressão da moda, de tomar a iniciativa e ter o domínio da bola, e os reativos, outra palavra da moda, que recuam para marcar e contra-atacar, é cada dia mais obsoleto. A Alemanha, o Brasil e outros times usam as duas estratégias em uma mesma partida, sem programar o momento em que vão fazer uma coisa ou outra. Fazem, de acordo com a situação e o adversário. É uma evolução do futebol.

Contra o chilenos, que marcam muito por pressão, os alemães foram mais reativos. Contra o México, propuseram mais o jogo.

A Alemanha atual é diferente da que jogou a Copa, pela mudança de alguns jogadores e do sistema tático. No Mundial, jogou com dois zagueiros e dois laterais, enquanto na Copa das Confederações e nos jogos das eliminatórias, tem atuado com três zagueiros. O time, na Copa, tinha mais o domínio da bola e do jogo, graças aos três excelentes meio-campistas (Kroos, Schweinsteiger e Khedira), que, alternadamente, jogavam de uma área à outra.

O futebol muda, com frequência, em todo o mundo. O Cruzeiro, tido como um time que fazia e sofria poucos gols -fazia mais do que sofria-, passou a levar muitos gols, mais do que faz. O que mudou? Além das falhas individuais do lateral direito e dos dois zagueiros, Robinho, ótimo nos passes, volta pouco para marcar pela direita, a ponto de Mano Menezes ter deslocado Sóbis no jogo contra o Atlético-MG, ficando sem um atacante. Mano precisa resolver esse problema e justificar seu prestígio.

Mas a diferença principal em relação ao Atlético-MG não é a estratégia, e sim a qualidade do trio ofensivo Robinho, Cazares e Fred. Existe o hábito disseminado entre torcedores e comentaristas de achar que o time sempre ganha ou perde por causa do técnico.

O técnico Carille, que já foi chamado de retranqueiro no início de seu trabalho, mudou o time no segundo tempo, contra o Botafogo, ao colocar um atacante pela direita, Marquinhos Gabriel, no lugar do volante Gabriel. O time passou a jogar com um volante (Maicon), dois meias ofensivos (Jadson e Rodriguinho), dois pontas e um centroavante, como faz o Manchester City, com Guardiola. Assim, atuava o Cruzeiro nos anos 1960.

As coisas mudam, e o passado continua presente. Assim como existem profissionais, de todas as áreas, fascinados pelo passado, muitas vezes, por coisas que imaginaram e que nunca aconteceram, há os encantados pela modernidade, pelas milhares de estatísticas, pelos milagres da comunicação e que ignoram o passado, como se a vida e o futebol tivessem começado com a internet e com as redes sociais.

Rogério Ceni só vai se tornar um grande técnico se se libertar do personagem e, ao mesmo tempo, incorporar ao presente o que aprendeu com o passado. Não é fácil.


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