Folha de S. Paulo


Por causa de um descuido, mudam-se os conceitos e os resultados

Lucas Uebel/Grêmio FBPA
RS - FUTEBOL/CAMPEONATO BRASILEIRO 2017/GREMIO X CORINTHIANS - ESPORTES - Lance da partida entre Gremio e Corinthians disputada na tarde deste domingo, na Arena, valida pelo Campeonato Brasileiro 2017
Barrios corre atrás da bola observado por Fagner na partida entre Grêmio e Corinthians, no domingo (25)

Antes de começar o Campeonato Paulista, a maioria dizia que o time e o elenco do Corinthians eram fracos, a quarta força. Com a conquista do título, passaram a falar que era um time eficiente, porém, pragmático, defensivo e que não agradava. Após as primeiras rodadas do Brasileiro, diziam que o time era bom, formado por jogadores operários, disciplinados, mas que o elenco era pequeno para ganhar um campeonato longo e por pontos corridos.

Enfim, após a vitória sobre o Grêmio, houve um reconhecimento de que o Corinthians, dirigido por um treinador muito bem informado, sensato e lúcido nas condutas e nas entrevistas, possui também ótimos jogadores, que o elenco não é tão frágil quanto se imaginava e que o time é um forte candidato ao título.

Vários jogadores do Corinthians não passam apenas por um bom momento. São muito bons. Cássio quase sempre esteve entre os melhores goleiros do país. Fagner é o preferido de Tite para a reserva de Daniel Alves. Jô, todas as vezes em que se preparou, foi muito bem, como na conquista da Libertadores pelo Atlético-MG, quando foi o artilheiro da competição. Jadson já atuou pela seleção e é melhor do que parece, pelos passes precisos e talento coletivo. Rodriguinho se destaca desde o segundo semestre do ano passado.

Os outros, jovens ou mais conhecidos, evoluíram, por suas qualidades e por serem amparados pelo ótimo conjunto. Os que entram sabem o que fazer.

A maioria dos times brasileiros e europeus, quando perdem a bola, marcam com duas linhas de quatro, mas poucos fazem isso tão bem quanto o Corinthians. Evidentemente, não é por isso que o time ganha, mas ajuda muito. A falta de uma boa proteção aos defensores é uma das deficiências do São Paulo.

Enquanto o modelo do Corinthians é o de Mano Menezes e Tite, baseado na repetição, na segurança e no desenvolvimento uniforme, de degrau em degrau, o do São Paulo, por causa das inúmeras trocas de jogadores durante a competição e da admiração de Rogério Ceni pelos treinadores Osorio, Sampaoli e Guardiola, é o da frequente mudança de atletas e de sistemas táticos. Isso pode ser muito bom, mas não é para técnicos iniciantes nem para jogadores comuns e desentrosados.

Se o São Paulo fosse dirigido, na situação atual e com os mesmos jogadores, por qualquer outro técnico competente, provavelmente, não daria certo. Isso não diminui os erros de Rogério Ceni.

Renato Gaúcho, que faz bom trabalho no Grêmio, pisou na bola na derrota para o Corinthians. Como disse Mauro Cezar Pereira, da ESPN Brasil, o treinador, no segundo tempo, descaracterizou a equipe, com tantas mudanças de jogadores e de sistema tático. Essa é uma falha frequente nos treinadores de todo o mundo. Na ânsia de mudar e de virar o jogo e por não serem criticados por omissão, mudam muito, mesmo quando o time está bem. Com isso, diminuem as chances de ganhar a partida.

Porém, por muito pouco, por um descuido, por um piscar de olhos, se Luan tivesse virado um pouco o pé, para a bola ir no canto, se não hesitasse quando correu para a cobrança, se Cássio escolhesse o lado errado, o Grêmio teria feito o gol de pênalti e, inflamado pela torcida, poderia se agigantar e virar o jogo. Renato seria elogiado pela ousadia, e eu escreveria outra coluna. É o futebol por um fio.


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