Folha de S. Paulo


O torcedor está confuso com tantas opiniões e informações

O futebol é repleto de lendas, frases feitas e conceitos, muitas vezes equivocados, que, por inércia, desconhecimento técnico e simplificação, são repetidos ao longo do tempo. Os torcedores ficam confusos com tantas informações, opiniões e terminologias diferentes. Muitos querem entender, e não apenas torcer.

O Grêmio, em algumas partidas, atuou com dois volantes (Arthur e Michel), além de um meia aberto pela direita (Ramiro) e um meia de ligação, que eram, originalmente, volantes. O time não jogou com quatro volantes, como tanto disseram. Roger, no Atlético-MG, escalou Elias de meia direita e mais dois volantes. Insistem que eram três.

Até hoje, falam que a Seleção de 1970 tinha vários meias de ligação, camisas 10. Eu, que era um meia ofensivo no Cruzeiro, atuei de centroavante. O meia Rivellino jogou pela esquerda, formando um trio no meio-campo, ao lado de Gérson e Clodoaldo. Pelé atuou, como era habitual, de ponta de lança, segundo atacante. Jairzinho era um atacante pela direita e pelo centro. Não havia um único clássico meia de ligação, centralizado.

Se fosse hoje, diriam que eu seria um falso 9, como se todo centroavante tivesse de ser grosso, grandalhão, centralizado e apenas finalizador. Qualquer dia, vão dizer que o goleiro que joga bem com os pés é um falso 1.

Escutei, um milhão de vezes, que Lugano, por ser lento e veterano, só pode atuar em uma linha de três zagueiros, pelo centro, como líbero, na cobertura. Penso o contrário. Como os dois zagueiros pelos lados fazem, com frequência, a cobertura dos alas, o zagueiro pelo centro tem de ser mais rápido, porque atua em um espaço maior. Em vez de quatro defensores (dois laterais e dois zagueiros), são três, a não ser que os alas joguem como laterais. Aí, seria uma linha de cinco.

Marcello Zambrana/Agif/Folhapress
Lugano durante entrevista no CT do São Paulo
Lugano durante entrevista no CT do São Paulo

Os bons técnicos usam os três zagueiros como uma estratégia para o time ser mais ofensivo. Escalam, como alas, meias rápidos. Com dois ou três zagueiros, todos eles jogam em linha. Os antigos líberos, que jogavam atrás dos zagueiros e que, quando o time recuperava a bola, avançavam e se tornavam jogadores de meio-campo, não existem há muito tempo.

A moda é dizer que muitos times têm jogado com cinco zagueiros. Não é verdade. Seguem o modelo do Chelsea, que joga com três zagueiros e dois alas, que, em vez de voltarem para marcar ao lado dos volantes, como era antes, se posicionam ao lado dos três defensores, formando uma linha de cinco. Quando o time recupera a bola, os dois alas avançam e se tornam atacantes pelos lados.

Fala-se muito da globalização do futebol e que todos os times jogam do mesmo jeito. Também não é verdade. As diferenças são marcantes entre os continentes. Como salientou Júnior, comentarista do SporTV, durante a partida entre Chile e Alemanha, enquanto, no time chileno, predominavam a habilidade, os dribles e o confronto individual dos meias e atacantes contra os defensores, na Alemanha, predominavam o passe e a técnica. Raramente, driblavam, embora cada vez mais exista na Europa, em outros países, como Espanha e França, ótimos meias dribladores.

O drible e o passe são essenciais e se completam. É a união da técnica individual, simbolizada no drible, e do coletivo, representado pelo passe. Mais importante ainda é a lucidez para driblar e passar no momento certo.


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