Folha de S. Paulo


Emoção, razão e justiça nem sempre caminham juntas no futebol

Ivan Sekretarev/Associated Press
Chile's Eduardo Vargas looks at referee Demir Skomina during the Confederations Cup, Group B soccer match between Cameroon and Chile, at the Spartak Stadium in Moscow, Sunday, June 18, 2017. (AP Photo/Ivan Sekretarev) ORG XMIT: FP259
Juiz sinaliza que utilizará o árbitro de vídeo no jogo entre Chile e Camarões, na Copa das Confederações

Pela colocação na tabela e pelas atuações, Corinthians e Grêmio são agora os principais candidatos ao título do Brasileiro. O Corinthians, contra o bom time do Coritiba, sentiu a falta de Jadson, o jogador com mais talento coletivo da equipe.

O Grêmio, nas duas vitórias antes de enfrentar o Cruzeiro, contra Bahia e Fluminense, não atuou tão bem como nas partidas anteriores. A razão foi que, por causa da ausência de Barrios, Luan atuou mais adiantado, e os volantes Maicon e Arthur se revezaram na função de meia de ligação. Todos fora de suas posições e características. Contra o Bahia, o Grêmio fez 1 a 0 nos minutos finais, após escanteio, e, contra o Fluminense, venceu com dois gols de falta. O time criou poucas chances de gol. Mas, como venceu, foi tão elogiado quanto antes.

Contra o Cruzeiro, pelo pedido de Maicon de não jogar, como foi noticiado, ou por decisão do técnico Renato Gaúcho, Everton foi escalado à frente, e Luan e Arthur voltaram a atuar em suas posições. O time voltou a brilhar. O Grêmio possui três excelentes volantes (Maicon, Arthur e Michel) para duas posições.

Grêmio e Cruzeiro, dois times organizados, fizeram a melhor partida do campeonato. Luan deslizava no gramado, com seu refinamento e precisão técnica. A bola, agradecida, beijava seus pés. Arthur é, entre todos os volantes que atuam no Brasil, o que mais representa os novos tempos, pela mobilidade, habilidade e ótimos passes, além de ser bom marcador. O Cruzeiro também jogou muito bem, especialmente Thiago Neves. Falta ao Cruzeiro, para ter a mesma aspiração do Grêmio no campeonato, um Luan.

Após a derrota, em casa, para o Vitória, por 3 a 1, Luxemburgo disse que o Sport precisa descobrir o que acontece em campo. Para isso ele foi contratado. Um dos motivos é que a equipe, quando atacava, avançava o meio-campo, e os zagueiros ficavam encostados à grande área. Havia um grande vazio no meio. O Vitória poderia ter feito mais gols.

Apesar dos avanços táticos dos times brasileiros, a maioria dos zagueiros continua colada à grande área, marcando o goleiro. Penso que eles não deveriam atuar tão recuados, para não deixar grandes espaços entre eles e os armadores, nem tão adiantados, para não sobrar espaços nas costas. Poderiam atuar numa posição intermediária, entre a área e a linha do meio-campo.

Analistas costumam imputar aos treinadores quase toda a responsabilidade pelas atuações, vitórias e derrotas. Além dos treinadores, surgiu uma nova e importante personagem, os bem-vindos árbitros de vídeo. Na Copa das Confederações, já mudaram algumas condutas decisivas e equivocadas dos árbitros de campo, que não dependem de interpretação. É ou não é. Muitos erros dos árbitros não são falhas técnicas, são limitações humanas.

O resultado fica mais justo, embora, no início, cause muita estranheza a pausa, o silêncio, antes da decisão final. Está esquisito. Os narradores estão perdidos, se gritam ou não o gol. Será que vamos nos acostumar? Emoção, razão e justiça nem sempre caminham juntas

Dirigentes, treinadores, jogadores, comentaristas, árbitros de campo e, agora, de vídeo costumam se achar mais importantes que o futebol. Não aceitam a insignificância. "Somos algo que se passa no intervalo do espetáculo" (Fernando Pessoa).


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