Folha de S. Paulo


A derrota da seleção não diminui a qualidade da equipe, mas é um alerta

Ainda não entendi bem se a CBF, ao transmitir os jogos amistosos da seleção por meio da TV Brasil e pela internet segue uma tendência mundial ou quer também confrontar a TV Globo. A emissora, nos dias anteriores ao jogo, não falou nada sobre a partida nos noticiários esportivos. Foi bom ver Pelé, jovem para a idade. Tecnicamente, a transmissão foi boa, mas cheguei até a sentir falta de Galvão Bueno e Casagrande.

Na segunda parte do 1º tempo, a Argentina foi um pouco melhor e fez o gol da vitória. Sampaoli, com apenas uma conversa, já acabou com a bagunça tática pós-Copa de 2014. Di María de ala, no esquema com três zagueiros, foi o destaque. Fágner fechava pelo meio e deixava Di María receber a bola, livre, pela ponta, já que Philippe Coutinho não voltava para marcar pelo lado.

No segundo tempo, o Brasil foi melhor e merecia empatar. Philippe Coutinho e William trocaram de posição e passaram a jogar como brilham em seus clubes. Depois, Tite mudou o sistema tático, com a entrada de Douglas Costa pela esquerda e com Philippe Coutinho, pelo centro, saindo Renato Augusto.

Será uma boa alternativa para outras partidas. Paulinho, quando não faz gols, é apagado como armador. Faltou, principalmente, Neymar, o fora de série. Com as modificações no time brasileiro, Sampaoli reforçou a defesa, que passou a jogar com três volantes e mais quatro defensores. Messi foi discretíssimo durante todo o jogo.

A derrota foi bem-vinda. Havia muita euforia e bajulação ao time e a Tite, como se o Brasil já tivesse ganhado a Copa. A derrota não diminui a qualidade da equipe, mas é alerta de que nem tudo o que acontece nas vitórias é o mais correto.

CORINGA TÁTICO

Escrevi, em outra coluna, que, tempos atrás, quase todos os times brasileiros tinham laterais, bons ou ruins, que avançavam pelas pontas, isolados, para cruzar a bola na área. Algumas equipes possuíam três volantes, um pelo centro, para ser quase um terceiro zagueiro, e mais um de cada lado, para fazer a cobertura, ser o secretário dos laterais.

Isso mudou. Hoje, os secretários dos laterais são os pontas, que têm de atacar, fazer gols e ainda recompor, para marcar o lateral rival. Precisa ser superatleta. Geralmente, os que fazem isso são os medianos, táticos. Romero será eleito o melhor secretário de lateral do Brasileiro.

Essa estratégia também traz problemas defensivos. Quando o adversário ataca, os laterais costumam fechar pelo meio, com fez Fágner contra a Argentina, para fazer a cobertura dos zagueiros, confiando que os pontas vão recuar e ocupar o espaço defensivo pelos lados. Com frequência, não dá tempo. Assim, têm saído muitos gols.

No Real Madrid, quando Marcelo avança, quem faz a cobertura é Sergio Ramos, e o volante Casemiro ocupa o lugar do zagueiro. É mais fácil para Sergio Ramos, de frente para o lance, perceber o passe, se antecipar e desarmar o atacante.

Zidane, um dos maiores jogadores da história, brilha como técnico, pelos títulos e condutas. O Real Madrid, em todas as partidas, usa opções de acordo com o momento do jogo e o adversário. Isco (ou Bale) pode ser um armador pelos lados, formando um quarteto no meio-campo; um meia de ligação, com mais três no meio-campo, como em um losango; ou um terceiro atacante. É um coringa tático.


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