Folha de S. Paulo


Deveríamos tratar Luxemburgo como um técnico comum

Marlon Costa/Futura Press/Folhapress
O técnico Vanderlei Luxemburgo desembarca no Aeroporto Internacional Gilberto Freyre no Recife (PE),
O técnico Vanderlei Luxemburgo desembarca no Aeroporto Internacional Gilberto Freyre no Recife (PE)

Luxemburgo está de volta, no Sport. A maioria diz que ele foi um treinador excepcional e que, com o tempo, ficou ultrapassado, por se desconcentrar do jogo e por não acompanhar os avanços e mudanças da ciência esportiva.

Compartilho dessas opiniões, mas, como há dezenas de fatores envolvidos nas atuações e nos resultados das partidas, embora a maioria coloque toda a responsabilidade nos técnicos, tenho dúvidas se Luxemburgo foi tão excepcional e se ficou tão decadente.

Muitos treinadores inferiores são mais vitoriosos que outros superiores, porque têm mais chances de dirigir, seguidamente, clubes grandes, com jogadores de melhor qualidade. Criam-se também rótulos e conceitos equivocados sobre treinadores, que são repetidos, por desconhecimento ou inércia, por um longo tempo, às vezes, para sempre. Os erros nas vitórias e os acertos nas derrotas são também esquecidos.

O período de sucesso de Luxemburgo, mais ou menos dez anos, coincidiu com o da mediocridade coletiva do futebol brasileiro, quando predominavam chutões, bolas longas, aéreas, volantes brucutus, marcação individual e outros detalhes.

Luxemburgo destacou-se, nessa época, entre outras coisas, por ser inovador, ao colocar um segundo volante, de mais habilidade, para fazer a saída de bola, e por incentivar troca de passes e triangulação, característica dos times modernos.

A ultrapassada marcação individual, usada pelos europeus nos anos 1960 e 1970 e no Brasil nos anos 1990, quando o defensor trocava de posição para marcar um determinado adversário, não tem nada a ver com a marcação atual, usada por Cuca, quando, durante uma disputa individual, o marcador vai atrás do adversário até o desfecho do lance. Dizer que Cuca poderá substituir Felipe Melo, porque este não está acostumado com marcação individual, não faz sentido.

Volto a Luxemburgo. Ele manteve, em seu período de fracassos, que já dura uns dez anos, grande parte dos conceitos e das estratégias ultrapassadas. Pior, sempre diz não ter nada para aprender. Ele, assim como muitos profissionais, de todas as áreas, até os mais estudiosos, costuma repetir o que um dia deu certo, mesmo que a realidade seja outra. A nostalgia, o narcisismo e o pensamento mágico andam juntos.

Uma das grandes dificuldades que terá Luxemburgo em seu retorno, com ou sem novas ideias, é que as pessoas vão esperar dele, por causa de sua história, muito sucesso ou muito fracasso. Deveríamos desconstruir a personagem e tratar Luxemburgo como um técnico comum, com suas limitações, virtudes e defeitos.

REAL BICAMPEÃO

Queria ter ido a Cardiff, cidade que não conheço. Tentei comprar ingressos pela internet, mas não consegui. Antes da partida, achava que o Real tinha mais chances, por ser mais forte, mas torceria para a Juventus, por ter vencido menos vezes a Liga dos Campeões e por Buffon, 39 anos, um dos maiores goleiros da história, que nunca conquistou esse título.

Deu Real, de goleada. Casemiro e Marcelo brilharam. Cristiano Ronaldo só é fabuloso em um único tipo de jogada, a mais importante, decisiva, o gol.

O Real precisa dele para ser um time tão espetacular, e ele precisa do Real para ser tão magistral.


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