Folha de S. Paulo


Antes de ser titular, Vinícius Júnior já é tratado como fenômeno

A Chapecoense é líder do Brasileiro, com os mesmos pontos de Corinthians e Cruzeiro, dois times parecidos. São seguros na defesa, têm bom domínio da bola e do jogo, sofrem e fazem poucos gols e perdem pouco. O elenco do Cruzeiro é melhor, pois tem dois bons jogadores em quase todas as posições, mas o time titular do Corinthians possui mais jogadores que estão entre os melhores de suas posições no país.

Ariel Cabral, antes criticado pela maioria, me incluindo, por ser lento e por só dar passes curtos e para os lados, é hoje elogiado por quase todos, me incluindo, por raramente errar um passe, aparecer para receber e tocar a bola e ajudar o time a ter o domínio do jogo. Cabral é um tipo de volante, meio-campista, que desapareceu do futebol brasileiro por um longo tempo, por causa da burra divisão que houve no meio-campo, entre os volantes que marcam e os meias ofensivos que atacam. Isso tem mudado.

Meio-campista bom não é apenas o que, vez ou outra, dá um ótimo passe para gol. É também o que possui boa técnica para o passe e lucidez para fazer as escolhas certas, sem perder a posse da bola. Os grandes craques mundiais com esse estilo, nos últimos tempos, são Xavi e Kroos. Como esses armadores atuam no meio-campo, distantes da grande área, têm pouca chance de dar o último passe decisivo para o gol. Mas são muito importantes na organização do jogo.

No clássico paulista, Rogério Ceni foi muito bem por não escalar Lugano, por colocar um meia habilidoso pela direita, Marcinho, para jogar de ala, como fazem muitos grandes técnicos europeus, e por fazer uma marcação mais recuada, bloqueando as jogadas do Palmeiras. Essa estratégia, em vez de marcar mais à frente, era necessária nessa partida.

Luiz Araújo e Pratto foram importantes na vitória. Luiz Araújo, com a ajuda de Rogério Ceni, precisa aprender a usar mais e melhor sua velocidade e habilidade nos contra-ataques. Se quiser ser um grande jogador, terá também de ter mais lucidez e um bom passe no momento certo. Pratto ficou livre, duas vezes, em condições de marcar, e o passe de Luiz Araújo não foi correto.

A Ponte Preta fez dois gols no Atlético-MG e poderia ter feito mais uns dois contra a frágil defesa do Galo, que não para de contratar bons jogadores do meio para frente (Valdivia foi o último) para ficarem na reserva, mas que não possui um excelente zagueiro nem bons reservas para a zaga e as laterais.

Um vício medíocre dos últimos tempos continua ainda frequente no Brasileiro, o do excesso de jogadas aéreas, para se livrar da bola e/ou para contar com a sorte de ela cair em um atacante livre para cabecear. Não confundir com cruzamentos, passes, uma virtude de alguns jogadores, que colocam a bola com precisão para o companheiro, entre um defensor e outro, para fazer o gol.

Estou curioso para ver o jovem Vinícius Júnior jogar durante toda uma partida. Quando talentosos jovens tornam-se fenômenos mundiais, as TVs mostram reportagens sobre a infância, o primeiro técnico (são muitos), o primeiro gol, o lugar em que viviam. Tudo isso já fizeram com Vinícius Júnior, antes de ele ser titular do Flamengo. São os novos tempos, espetaculosos, em que as histórias são contadas antes de terem acontecido.

Vinícius Júnior já é, antes de ser. Tomara que seja.


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