Folha de S. Paulo


Qualidade individual melhorou com formação de bom conjunto na seleção

Marcelo e Daniel Alves têm brilhado no Real Madrid e na Juventus. Daniel Alves joga em três posições: de lateral, em uma linha de quatro defensores, como contra o Barcelona, de meia direita, aberto, como contra o Monaco, e de ala, no sistema com três zagueiros, em vários outros jogos.

Se o técnico da seleção brasileira fosse um europeu, provavelmente, escalaria os dois mais adiantados, como alas. Isso não significa que seria melhor para o time. Zidane chegou a falar nisso, mas desistiu, com razão, já que o Real possui vários craques, pela esquerda, no meio-campo e no ataque. Zidane e Tite aproveitam muito bem o talento ofensivo dos laterais, sem fragilizar a marcação.

Desde os anos 1960, o Brasil tem grandes laterais, excepcionais no apoio, como Nilton Santos, Carlos Alberto, Leandro, Júnior, Cafu, Roberto Carlos, Nelinho, Jorginho, Daniel Alves, Marcelo e outros. Por causa deles, todos os laterais brasileiros, mesmo os ruins, passaram a avançar pela ponta. Limitavam-se a correr e a cruzar. Proliferaram também os volantes brucutus. Alguns times tinham três. Um, pelo centro, para ser quase um terceiro zagueiro, e mais um de cada lado, para fazer a cobertura dos laterais.

Houve uma divisão no meio-campo, entre os volantes que marcavam muito atrás e os meias ofensivos que jogavam próximos aos centroavantes. Ficou um vazio no meio-campo. A bola saía da defesa para o ataque, pelos laterais ou com lançamentos longos, chutões.

Na Europa, como os laterais eram apenas marcadores - alguns times jogavam com uma linha de quatro autênticos zagueiros -, os jogadores de meio-campo tinham de ter bom passe. Daí, haver muito mais meio-campistas de talento na Europa que no Brasil.

Nos últimos anos, isso começou a mudar. Os treinadores brasileiros perceberam o óbvio, que o meio-campo é setor de marcação e de criação. O Brasil já tem um volante de prestígio mundial, Casemiro, o que ainda é muito pouco. Na Europa, começam a aparecer laterais habilidosos. Eles, assim como no Brasil, marcam e avançam, formando duplas com os meias pelos lados. O futebol ficou melhor.

Por causa das más atuações e derrotas, fizemos uma avaliação equivocada de que havia uma enorme deficiência individual na seleção. Com a formação de um bom conjunto, vários jogadores que já se destacavam em grandes times europeus e outros que cresceram nos últimos anos passaram a jogar bem na seleção. Surgiu ainda Gabriel Jesus, uma esperança.

Isso não significa, como já falam os açodados, que o Brasil já é o melhor time do mundo, que Douglas Costa, quando vivia seu melhor momento, se tornaria tão importante quanto Neymar, que Philippe Coutinho está entre os cinco melhores do mundo e outras estapafúrdias. Não somos os melhores. Estamos entre os melhores.

BRASILEIRO

Não vou dar nenhum palpite. Há um pequeno risco de acertar. O equilíbrio é enorme. Algumas equipes estão um pouco melhores, mas não é suficiente para apontar favoritos. Todas precisam de algo mais. O Corinthians e outros times deveriam reforçar o elenco. Já o Cruzeiro e outros, que têm bons elencos, necessitam de um Guerrero, um Fred, um Jadson, um Éverton Ribeiro, um Ricardo Goulart. Rogério Ceni deveria ser menos prepotente e menos cientificista, por achar, por números tendenciosos, que o São Paulo está bem.


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