Folha de S. Paulo


Supervalorização dos treinadores é principal razão para suas demissões

Hoje, terminam os estaduais. Existe um conceito, que se tornou chavão, de que os estaduais não servem de parâmetro para nada, pois os vencedores não costumam ir bem em outras competições. Parece também uma maldição. Não é por aí. A dificuldade está no equilíbrio entre tantas equipes. As vitórias estão muito próximas das derrotas. E a culpa é sempre do técnico.

A razão principal para o excesso de demissões de técnicos, como a de Eduardo Baptista, é, paradoxalmente, a supervalorização dos treinadores, tidos como quase os únicos responsáveis pelas vitórias e derrotas. As análises passaram a ser feitas, principalmente, pelas condutas dos técnicos. Daí, a ilusão de que, se trocar, tudo vai mudar.

Em Minas, no 0 a 0 da primeira partida, há muito tempo ou nunca, tinha visto o Atlético-MG tão organizado na defesa, com duas rígidas linhas de quatro, à espera de um bom contra-ataque, que, raramente, ocorreu. Era o contrário do Galo Doido. Funcionou, em parte, porque o time joga hoje pelo empate e no Independência, onde acha que atua melhor. Qual será a postura da equipe? Não sei.

Ou a estratégia de privilegiar a marcação mais recuada no primeiro jogo foi circunstancial, imposta pelo domínio do Cruzeiro? Há um hábito disseminado de achar que tudo o que acontece em um jogo foi planejado pelos treinadores.

O Cruzeiro é um time organizado e eficiente, na defesa e no ataque, mas falta, em algumas ocasiões, mais improvisação, individual e coletiva, e mais intensidade na procura do gol. No primeiro jogo, o Cruzeiro não deu sequer um chute a gol. Contra a Chapecoense, deu um e ganhou de 1 a 0.

No Rio, o Flamengo, como o Cruzeiro, é um time muito organizado, mas, às vezes, sem ambição de procurar o gol, o que não foi o caso do último jogo. Guerrero tem jogado muito. Gosto mais da formação tática atual, com apenas um volante e dois armadores, que marcam e atacam, mas falta um jogador de qualidade para formar o trio no meio-campo com Márcio Araújo e Willian Arão, já que não tem Diego.

O Fluminense vai marcar mais atrás, para contra-atacar, ou vai pressionar mais à frente? Não sei. Deveria tentar usar as duas estratégias, de acordo com o momento, como fazem as grandes equipes, como a Juventus, contra o Monaco. O time italiano foi muito defensivo e muito ofensivo. É preciso acabar com a dicotomia de que tem de ser uma coisa ou outra.

Em São Paulo, o Corinthians é praticamente campeão. Por respeito aos acasos e mistérios do futebol, não tive coragem de tirar a palavra praticamente.

É evidente que o Corinthians evoluiu durante a competição, mas um time que tem um bom e promissor técnico, um excelente goleiro, um ótimo sistema defensivo e três jogadores do meio para frente (Rodriguinho, Jadson e Jô), que estão entre os melhores de suas posições, entre os que atuam no Brasil, não houve surpresa. O Corinthians, como outros tantos times, é candidato ao título do Brasileiro. Como o equilíbrio é grande, pode ficar em primeiro ou entre o quinto e o décimo.

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Todas as partidas deveriam ter torcidas divididas meio a meio. Mas a violência é tão grande, no futebol e na sociedade, que já estamos acostumados e muitos acham certo 90% de torcedores de um time e 10% do visitante. Outros sugerem torcida única. Brevemente, serão jogos sem torcida. Será o fim.


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