Folha de S. Paulo


Único momento em que o sistema tático está claro é antes de a bola rolar

A prisão e as acusações de corrupção a Coaracy Nunes, ex-presidente da CBDA (Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos), entidade que presidiu por 29 anos, não foram surpresa. A nova e bem-vinda lei que só permite uma reeleição de dirigentes esportivos só vai ocasionar mudanças positivas se acabar também a promíscua formação de patotas que se perpetuam no poder. É o que ocorre na CBF.

Há tempos, evito pôr em números a maneira de jogar das equipes. Prefiro explicá-la, já que os jogadores se movimentam bastante, e há, a cada instante de um jogo, vários desenhos táticos diferentes. Muito mais importantes são as funções e as características dos atletas, e não as posições predeterminadas.

O único momento em que o sistema tático de um time está claro é antes de a bola rolar, quando os jogadores estão perfilados, estáticos. Mesmo assim, eles costumam ficar em posições diferentes das que foram desenhadas pelos técnicos nas pranchetas. Quando a bola rola, os atletas não param de correr.

Sistemas táticos bem diferentes, pelos números e pelos desenhos na prancheta, são muito parecidos durante a partida. O 4-3-3 do Barcelona, do Real Madrid, do Bayern, do São Paulo e de dezenas de outras equipes, com três no meio-campo (um volante e um meio-campista de cada lado, que marcam e atacam), além de um jogador de cada lado e um centroavante, é quase idêntico ao 4-1-4-1, usado pela seleção, pelo Corinthians e por outros times, pois há também três no meio-campo, um jogador de cada lado e um centroavante.

Como os dois jogadores pelos lados voltam para marcar, no 4-3-3 ou no 4-1-4-1, o time defende com cinco no meio-campo (os dois, mais um volante e dois meio-campistas) e ataca também com cinco (os dois, mais dois meio-campistas e o centroavante). Se quiser, pode chamar de 4-5-1, para defender, e 4-1-5, para atacar.

Existe pouca ou nenhuma diferença tática entre o tradicional 4-4-2, usado há 50 anos, com dois volantes, um meia de cada lado e dois atacantes (um centroavante e um ponta de lança, que volta ao meio-campo para receber a bola), que poderia ser chamado de 4-4-1-1, e o atual 4-2-3-1, que também tem um meia de cada lado, outro centralizado, parecido com o ponta de lança, e mais o centroavante.

O 4-3-3 do Real Madrid poderia também ser chamado de 4-4-2, pois Bale, terceiro atacante, volta para marcar pela direita, formando, com os outros três do meio-campo, uma linha de quatro.

Os números e o desenho tático servem só de referência para técnicos e jogadores e para os comentaristas mostrarem que entendem do assunto. Sem diminuir a digna profissão, até os pipoqueiros dos estádios, entre uma venda e outra, sabem desenhar a tática na prancheta.

Importantes nas discussões táticas são as imagens, em movimento, dos jogadores no jogo, do início ao fim de um lance, mostradas e analisadas por comentaristas de alguns programas esportivos da ESPN.

Os técnicos são hoje importantíssimos, mas muitas coisas ocorrem naturalmente, sem serem ensaiadas ou planejadas. Além disso, a história de uma partida não pode ser só vista a partir do resultado ou da conduta dos treinadores. O futebol é contraditório, jogado com uma estável instabilidade, uma segura insegurança, uma organizada desorganização e uma racional emoção.


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