Folha de S. Paulo


Nepotismo, corrupção e troca de favores são pragas nacionais

Na semana passada, escrevi que tinha receio de que Tite, ao convocar certos profissionais para a comissão técnica e alguns jogadores que trabalharam com ele e que foram bem, cometa o mesmo erro de Felipão, na Copa de 2014. Não afirmei nem insinuei que Tite esteja formando uma patota, embora essa prática seja frequente no país.

Discordo de certas convocações de Tite, mas nenhum jogador que merecia ser titular deixou de ser chamado.

Naquela coluna, quis alertar e chamar a atenção de um erro comum entre técnicos e profissionais de todas as áreas, mesmo os mais sérios e competentes, de achar que o que deu certo um dia deva ser repetido, mesmo quando as circunstâncias são diferentes. É uma associação de autoengano técnico com superstição e onipotência do pensamento, como se o que é imaginado e desejado fosse mais importante que a realidade.

David Gray - 8.jul.2014/Reuters
Observado por Bernard, Felipão faz gesto durante a derrota do Brasil para a Alemanha por 7 a 1
Observado por Bernard, Felipão faz gesto durante a derrota do Brasil para a Alemanha por 7 a 1

Felipão escalou na Copa alguns jogadores que tinham atuado bem na Copa das Confederações, mas que haviam caído de produção, como Fred, Paulinho e Luís Gustavo, além de ter convocado o zagueiro Henrique apenas por ter sido seu capitão no Palmeiras. Pior, pôs Bernard contra a Alemanha, no Mineirão, com a ilusão de que jogaria bem, como tinha feito na Copa das Confederações, contra o Uruguai, por poucos minutos, no mesmo estádio, com apoio da torcida do Atlético-MG.

Zagallo, que tinha sido um técnico inovador na Copa de 1970, repetiu em 1998, 28 anos depois, os mesmos treinos táticos, apesar de serem situações bem diferentes. Fez isso mais pela ilusão de que deveria repetir o que tinha dado certo, e menos porque estava desatualizado.

Vi médicos, com profundo conhecimento científico, agirem mais por experiências anteriores do que de acordo com a evolução da medicina.

Várias decisões humanas, em todas as profissões, são tomadas em algumas situações, mais por rompantes, motivadas por fragilidades emocionais e por estranhas e ilógicas associações.

No Brasil, é frequente a formação de patotas. Os escolhidos são, geralmente, os parceiros. Uma das razões do poderio econômico dos Estados Unidos foi, ao longo da história, acolher bem e valorizar os profissionais mais capazes, sejam americanos ou estrangeiros. O presidente Trump, ao barrar os imigrantes, vai contra isso, além de ser uma conduta desumana.

A justificativa para muitas escolhas é a confiança. É o mesmo argumento usado na contratação de parentes, prática que se tornou frequente nas comissões técnicas dos times brasileiros. Uns são chamados por merecimento técnico, e outros por proximidade afetiva. O nepotismo, na esfera pública, apesar de proibido, é uma das pragas nacionais.

INACREDITÁVEL

A estratégia corajosa e bastante arriscada do Barcelona, adequada para a desvantagem de quatro gols, com quatro atacantes e com intensa e constante marcação por pressão; a postura medrosa e medíocre do Paris Saint-Germain; os erros do árbitro na marcação dos dois pênaltis, especialmente o segundo; além da enorme importância dos fatores emocionais e do acaso foram decisivos para a espetacular e inacreditável classificação. Neymar foi o destaque do jogo. Repito, ele caminha –ainda não chegou lá– para se tornar o segundo maior jogador da história do futebol brasileiro.

Sergio Perez/Reuters
Neymar comemora gol marcado contra o PSG
Neymar comemora gol marcado contra o PSG

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