Folha de S. Paulo


Esquema tático tradicional brasileiro é raro nos grandes da Europa

Na coluna anterior, escrevi que Renato Gaúcho é um bom observador e que possui muita esperteza mental. Se estudasse bastante, poderia ser um grande treinador, quem sabe um Tite. É evidente ainda que não adianta assistir a milhares de jogos, seja um ex-atleta ou um grande estudioso, se não tiver a capacidade de ver os detalhes subjetivos, as entrelinhas e o que não foi programado.

A prepotência dos que estudam muito e acham que já sabem tudo é tão grande quanto a dos que não estudam e acham que não é preciso.

Cristiano Ronaldo ganhou a Bola de Ouro como o melhor do ano. Messi continua sendo o melhor do mundo. Neymar foi o quinto do ano, mas é o terceiro melhor de todos. Griezmann, excelente atacante, ficou em terceiro, mas se jogasse no Real Madrid ou no Barcelona não teria o mesmo destaque, ofuscado pelos vários craques superiores a ele nas duas equipes.

Foi o que ocorreu com James Rodríguez, o melhor jogador colombiano, no Real Madrid.

O Inter, no último jogo, que poderia decidir sua permanência na Série A, foi um time apático. Parecia paralisado, por vergonha e/ou por um enorme sentimento de culpa de achar que não merecia ficar na primeira divisão, após a tramoia dos dirigentes de tentar encerrar o campeonato antes da última rodada.

Antigos pilares da maneira de jogar dos times brasileiros, de ter sempre dois volantes em linha e um clássico meia de ligação, são cada vez menos frequentes nos grandes times do mundo. Barcelona, Real Madrid, Bayern e a seleção brasileira atuam com apenas um volante centralizado e com um meio-campista de cada lado, um pouco mais à frente, que marcam e atacam, formando um triângulo invertido no meio-campo.

Essas equipes, quando perdem a bola, marcam com cinco no meio-campo (um volante, dois meio-campistas e um jogador de cada lado), em vez dos quatro da formação anterior, e, quando a recuperam,
avançam, em vez de quatro, com cinco (dois meio-campistas, dois jogadores pelos lados e um centroavante), além dos laterais. Defendem com uma linha de quatro mais atrás e outra de cinco.

Quase todos os times brasileiros jogam com dois volantes em linha e um meia de ligação. O Palmeiras alterna as duas formações, esta e a da seleção brasileira. Os gremistas dizem que o habilidoso meia Douglas é o último dos românticos. Outros, para glamorizá-lo, falam também que ele é o último dos boêmios. Ele, pelas declarações, gosta desse rótulo.

Douglas tem jogado bem, apesar da irregularidade, mas os principais jogadores do Grêmio são o goleiro Marcelo Grohe, o zagueiro Geromel, os dois volantes Maicon e Wallace e o atacante Luan. Maicon e Wallace são importantes para a defesa, pois marcam e protegem muito os zagueiros, e para o ataque, pois as jogadas ofensivas começam com os dois, pela posse de bola e troca de passes.

As coisas vão e voltam. O atual e único volante mais centralizado, como Busquets, no Barcelona, Kroos, quando joga mais recuado no Real Madrid, mesmo Fernandinho ou Casemiro na Seleção, lembra os grandes centromédios dos anos 1950 e 1960, como Danilo, Dino Sani e outros, que tinham muito talento e um excepcional passe para iniciar as jogadas ofensivas.

O encontro com o novo é quase sempre o reencontro com o antigo, com algo que vimos, vivemos ou imaginamos.


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