Folha de S. Paulo


Força, Chape e familiares

Estamos todos de luto, chocados, perplexos, com a tragédia e morte de tantas pessoas da delegação da Chapecoense, uma equipe que estava em grande ascensão, vivia um momento de felicidade e sonhava com um título internacional. A vida acaba, de várias maneiras. Coragem à Chapecoense, aos amigos e aos familiares. Se já não tivesse escrito a coluna antes da tragédia, não saberia como fazê-la.

Lugano foi um zagueiro viril, grosso, mesmo quando jovem. Grosso, eficiente e líder. No programa Bola da Vez, da ESPN Brasil, sempre excepcionalmente conduzido por Dan Stulbach, Lugano disse que se identifica mais com Dunga que com Tite. Após reconhecer os grandes méritos técnicos do atual treinador da seleção, Lugano o chamou, de uma maneira radical e grosseira, de encantador de serpentes, por achar que Tite, com seus agrados e bom mocismos, hipnotiza a todos, especialmente a imprensa.

Espero que, no Bola da Vez de ontem à noite, com Tite, alguém tenha perguntado sobre o que falou Lugano.

Repito, acho Tite um excelente treinador, o que é óbvio, por causa de seus conhecimentos técnicos, táticos, e pela capacidade de fazer com que os atletas executem bem o que foi planejado. São irrelevantes seus discursos pastorais e professorais. Gosto mais do titês anterior. O técnico do Inter, Lisca Doido, dias atrás, falou de "choque de treinabilidade". É o titês puro, genuíno.

Falam muito que Tite é um excelente gestor, a palavra da moda. Antes, a moda era ser motivador. Os técnicos eram divididos entre os bons e maus motivadores. Quando ganhavam, eram bons. Quando perdiam, eram ruins. Agora, a divisão é entre bons e maus gestores. Cuca, um ótimo técnico, passou a ser também um ótimo gestor.

Lugano também disse, o que concordo, que o futebol de hoje no Brasil é melhor na maneira de jogar do que em sua primeira passagem pelo São Paulo, há mais de dez anos. Os técnicos atuais têm tentado se livrar dos vícios do período anterior, de muitos chutões, excessos de bolas aéreas, de faltas e com enormes espaços entre os setores. Essa mudança tem a ver com o 7 a 1.

Faltam ainda muitas coisas para mudar. Uma das razões das vitórias recentes do Grêmio sobre Atlético-MG e Cruzeiro foi a posse de bola e a troca de passes do time gaúcho. O Cruzeiro, em vez de pressionar quem estava com a bola, especialmente os dois volantes, recuava para fechar os espaços. O Atlético-MG não pressionou nem recuou. Deixava enormes buracos entre a defesa, o meio-campo e o ataque. Os times brasileiros, com raras exceções, ainda não aprenderam a avançar e a recuar em bloco.

No gol do Inter, contra o Cruzeiro, Valdívia correu com a bola por uns 80 metros e precisou dar apenas um drible, antes de chutar. O meio-campo do Cruzeiro avançou, e os zagueiros ficaram lá atrás, encostados à grande área. Isso também é passado. Nem sempre os erros são por culpa dos técnicos, assim como os acertos. Muitas coisas acontecem, sem explicação.

Lugano falou ainda que melhoraram as discussões sobre futebol na imprensa, nestes últimos dez anos, o que também concordo. Alguns comentaristas usam muito bem os avanços da tecnologia, as estatísticas e as imagens em movimento para explicar as estratégias das equipes, embora haja ainda muito blá-blá-blá e muitas discussões inúteis.

A vida continua, mais triste.


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