Folha de S. Paulo


Tite brilhou contra a Argentina por mudar a estratégia para a partida

Foi linda, pela televisão, a festa no Mineirão. Pensei em ir, com meus filhos e amigos, mas desisti, com receio de perder o silêncio e a tranquilidade para ver os detalhes técnicos e táticos. Poderia ter ido e ficado em um lugar reservado. Desisti, porque correria o risco de ficar ao lado de um grande número de políticos e de convidados da CBF. Poderia ter pedido aos jornais para os quais trabalho uma credencial de imprensa. Desisti, porque não teria de escrever logo após o jogo.

Em casa, além de ver outras partidas pelas eliminatórias, recebo milhares de informações e opiniões que ajudam em minha avaliação. Aprendi também a ver os detalhes táticos pela TV, ainda mais que as imagens são hoje bastante abertas, com ampla visão do conjunto. O que não vejo, posso deduzir, mesmo sendo incerto. Só os ignorantes têm certeza de tudo.

Tite evoluiu muito e merece o sucesso que tem tido na seleção. Reconhecer a importância de um técnico não é achar que os resultados e as atuações das equipes são sempre determinados pela ação dos treinadores, como passou a ser frequente no Brasil. Em alguns jogos, eles são decisivos, como foi Tite, contra a Argentina.

A excelente atuação contra o grande rival, no Mineirão, simboliza o fim do luto e a recuperação da seleção. O que não se deve é criar uma desmedida euforia. Precisamos aprender a conviver com as vitórias e com as derrotas, sem passar da euforia à depressão. Não se pode também confundir fim do luto com esquecer os 7 a 1. Este será lembrado para sempre. Já o luto chegou ao fim.

A recuperação da seleção não tem nada a ver com o futebol no país, dentro e fora de campo. Todos os titulares atuam fora, exceto Gabriel Jesus. Vão continuar as partidas fracas do Brasileiro, a promíscua relação da CBF com seus parceiros e a desorganização do calendário.

Muitos perguntam por que o time evoluiu tão rapidamente. Entre tantos motivos, porque Tite conhece do assunto.

A história da partida contra a Argentina foi, coletivamente, surpreendente. A expectativa era de que o Brasil pressionaria desde o início, teria mais a posse de bola, enquanto a Argentina marcaria mais atrás, para contra-atacar. No primeiro tempo, ocorreu o contrário. De forma programada, o Brasil recuou a marcação, deixou a bola com o adversário, bloqueou os espaços na intermediária e fez dois gols no contra-ataque. Messi não recebeu uma única bola livre entre os volantes e os zagueiros.

Antes do primeiro gol, Muricy, que estreava no SporTV, estava muito preocupado com o controle da bola pela Argentina e pedia marcação mais à frente. Aí, o Brasil fez o gol. A vida não é difícil somente para os técnicos. Por outro lado, se Alisson não tivesse feito uma ótima defesa ou se Fernandinho fosse expulso, o que quase aconteceu, a história poderia ter sido outra e, agora, estaria elogiando o novo comentarista.

No segundo tempo, a Argentina foi toda para frente, sofreu o terceiro gol e desmoronou. Ficou fácil. Poderia ter sido 7 a 1. Alguns jogadores, que tinham sido discretos no primeiro tempo, atuaram muito bem no segundo. Renato Augusto joga bem, do mesmo jeito, quando o jogo é fácil ou difícil. Neymar brilhou intensamente o tempo todo. Tite também, por mudar a estratégia para esse jogo. Agora, temos técnico, e dos melhores.


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