Folha de S. Paulo


Dar chutão não é proibido, mas defensores precisam ter bom passe

Triste a morte de Carlos Alberto Torres, companheiro na Copa de 1970, o maior lateral direito que vi jogar.

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Tenho ainda alguns hábitos diários, que, aos poucos, estão desaparecendo. Um deles é ir à banca para comprar jornais. Aproveito para participar de uma resenha esportiva. Nesta semana, escutei, outra vez, críticas de que muitos gols acontecem por causa de bolas perdidas no próprio campo e de que zagueiros e goleiros, em vez de tentarem passar a bola, o que a maioria não sabe, deveriam continuar nos chutões.

Não sabem, mas precisam aprender. O jogo fica mais agradável e eficiente, o que não significa que seja proibido dar chutões, quando necessário.

Perder a bola perto do próprio gol ocorre em todo mundo, mesmo nas melhores equipes. Dois gols do Barcelona contra o Manchester City começaram na recuperação da bola no campo do time inglês. Aliás, as duas equipes deram uma aula de como marcar por pressão, na saída da bola da defesa adversária.

Dizem que Guardiola dispensou o excelente goleiro Hart, titular da seleção inglesa, para contratar Bravo, do Barcelona, porque o goleiro da seleção chilena joga melhor com os pés. Os goleiros têm evoluído bastante no passe. Neuer é o que melhor joga fora do gol, porque é o mais rápido na cobertura, quando a bola é lançada nas costas dos defensores. Mas ele, nem nenhum goleiro do mundo, tem a habilidade com os pés que tinha Rogério Ceni.

Na seleção brasileira, Alisson tem melhorado no passe. Os zagueiros Thiago Silva e Marquinhos são ótimos na saída de bola. Isso facilita para o meio-campo. Já Miranda e Gil têm muitas dificuldades. Nos times brasileiros, o melhor, disparado, é Rodrigo Caio, do São Paulo. É sua maior qualidade. A maioria absoluta dos zagueiros se limita a dar um passe curto e para o lado.

Tempos atrás, os zagueiros com bom passe eram escalados como volantes. Hoje, tem ocorrido o contrário. Guardiola adora escalar jogadores de meio-campo e laterais na zaga, para melhorar o passe. A seleção de 1970 fez isso. O volante Piazza, que tinha bom passe, ficou ainda melhor nesse fundamento como zagueiro, já que as necessidades e as dificuldades de um defensor para dar um bom passe são menores que as de um jogador de meio-campo.

O torcedor fica aliviado quando o zagueiro dá um bicão e tira a bola de perto da área. Por outro lado, quanto mais chutões, mais rapidamente a bola volta para o próprio campo.

Hoje é dia de emoções, chutões e reclamações pela Copa do Brasil.

Futebol não é um jogo apenas técnico, científico, nem somente de improvisações e de maluquice, como disse Emerson Sheik, após a partida entre Flamengo e Corinthians.

Se ele e Guerrero tivessem finalizado bem, quando estavam livres dentro da área, o Flamengo poderia ter vencido. Se os árbitros não tivessem errado tanto no fim de semana, como sempre, como na não marcação de impedimento do primeiro gol do Flamengo e na não marcação de pênalti claro a favor do Sport, contra o Palmeiras, os resultados poderiam ser bem diferentes.

Os árbitros erram a favor e contra todas as equipes. Porém, na emoção do jogo, em fração de segundos, na dúvida, sem racionalizar e sem ter a intenção de prejudicar, os árbitros, pressionados, costumam beneficiar os grandes e/ou os que jogam em casa. Assim, acontece em todo o mundo.

Jorge Rodrigues/Eleven/Folhapress
Vilson (esq.), do Corinthians, tenta interceptar Guerrero, do Flamengo, no empate por 2 a 2 entre as equipes, no Maracanã, pelo Brasileiro
Vilson (esq.), do Corinthians, tenta interceptar Guerrero, do Flamengo, no empate por 2 a 2

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