Folha de S. Paulo


O futebol mostra que muitas vezes o errado pode dar certo

Rafael Ribeiro-21.mar.2016/ CBF
O jogador Renato Augusto durante coletiva na Granja Comary
O jogador Renato Augusto durante coletiva na Granja Comary

Na coluna anterior, escrevi que Renato Augusto tem jogado muito bem, de uma maneira surpreendente, muito melhor do que em toda sua longa carreira, o que atenua um pouco a enorme carência de um grande meio-campista na seleção. Um leitor imaginou que eu queria comparar Renato Augusto a Gerson. Não cometeria essa blasfêmia. Gerson foi o maior armador brasileiro que vi atuar.

Como há tantos fatores envolvidos no resultado e nas atuações das equipes, com frequência o errado dá certo, e também o contrário. Pior, o errado costuma se tornar um chavão, para sempre, como se fosse uma certeza.

Muitas vezes, um técnico substitui mal, o time vira o jogo, ele recebe muitos elogios e ainda aproveita para dar ótimas explicações
técnicas e táticas.

Renato Gaúcho, mesmo tendo o Grêmio boas possibilidades de conseguir vaga na Libertadores, pelo Brasileirão, poupou todos os titulares contra o Santos, por causa da partida de hoje contra o Palmeiras, pela Copa do Brasil. Como o Grêmio empatou na Vila Belmiro, resultado que não se esperava, mesmo se fossem os titulares, o errado se tornou certo, e o técnico foi elogiado.

Dorival Júnior, incomodado até hoje pelas críticas recebidas no ano passado, quando o Santos abandonou o Brasileirão por causa da Copa do Brasil, elogiou bastante o técnico do Grêmio por ter feito o mesmo. O Santos, em 2015, perdeu a vaga no Brasileirão e o título da Copa do Brasil. O errado deu errado, o que é muito mais frequente.

Uma situação é poupar jogadores com problemas físicos e/ou que têm mais possibilidade de ter uma contusão mais grave, ainda mais quando o elenco é bom e grande. Outra é poupar todos os titulares em uma competição, se concentrar na outra, quando há boas chances de ir bem nas duas.

Bagunçaram o Brasileirão. Após o Flá-Flu, os dirigentes do Palmeiras, com a intenção de se defender e de pressionar os árbitros, fizeram uma acusação irresponsável, de que existe um plano para ajudar o Flamengo. O Palmeiras é o líder, a melhor equipe, e não precisa desse jogo de bastidores ser campeão.

Veja vídeo

O Fluminense pediu a anulação do jogo contra o Flamengo, mesmo sabendo que o árbitro, após 13 minutos de lambanças, agiu certo em anular o gol. Querem que o errado seja o certo, com a justificativa de que houve ajuda externa. O que é justo, a vitória do Flamengo, pode ser ilegal, se for provado o auxílio das imagens da televisão.

O conflito entre o que é justo e a lei é frequente na vida humana.

Se a decisão final do árbitro estivesse errada, concordaria com a anulação do jogo. Na situação específica, manteria o resultado e puniria o árbitro por ter aceitado ajuda externa.

É cada dia mais comum a ajuda das imagens, em todo o mundo, nas decisões dos árbitros. Todos sabem, mas fingem que não existe. É preciso, com urgência, em algumas situações, oficializar a participação do quarto árbitro, o do vídeo, para ajudar o árbitro de campo, transformar o ilegal em legal.

Os árbitros brasileiros, além da limitação humana para ver muitos detalhes, erram demais. Sabem as regras, mas conhecem pouco de futebol. A agressividade e a má educação dos atletas contribuem muito para os erros.

Os treinadores e dirigentes não orientam nem punem os jogadores infratores. Está tudo errado. Devem achar que o errado é que está certo.


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