Folha de S. Paulo


Tite consegue transformar conhecimento em eficiência

Escrevi a primeira parte desta coluna antes do jogo de ontem à noite, entre Brasil e Colômbia. Se o time tiver ganhado e jogado bem, o que era o mais provável, vai acelerar a canonização de Tite. Tudo o que ele faz e diz, mesmo as coisas corriqueiras e comuns a todos os treinadores, são tratadas como especiais, de grande importância para a vitória.

Parece até que a seleção ganhou e jogou bem um grande número de partidas seguidas. Além disso, quando entra um novo técnico, muda o ambiente, os resultados e as atuações são, geralmente, melhores. Mesmo na segunda passagem de Dunga, pior que a primeira, o Brasil ganhou, inicialmente, uma série de jogos seguidos, contra fortes seleções como Argentina, Colômbia e França.

Se ontem o Brasil não tiver ganhado e jogado mal, não há motivo para depressão. A canonização de Tite será interrompida temporariamente, já que ele tem enormes créditos. Os que exaltaram a capacidade de Tite de formar um bom conjunto com poucos treinos e muitas conversas vão dizer que todo técnico precisa de tempo.

As TVs mostraram um vídeo, nos últimos dias, com alguns jogadores cantando e dançando, no vestiário, antes do jogo contra o Equador. Gostei, pela dança e pela musicalidade. Um comentarista disse que essa descontração foi decisiva na atuação, como se para jogar bem fosse necessário ficar bastante alegre antes do jogo. Cada um tem seu jeito. Pelé costumava deitar-se no vestiário, esticar as canelas e fechar os olhos. Ninguém podia importuná-lo.

Após o jogo contra o Equador, disseram que, com Tite, o Brasil joga o "futebol apoiado", a nova expressão da moda, para designar uma coisa bem antiga, que é a aproximação e a troca de passes. Escutei também "futebol orgânico". O que será?

No terceiro gol contra o Equador, um golaço, o mais correto seria Gabriel Jesus empurrar a bola para Paulinho, que ficaria livre, diante do goleiro. Dizer isso não diminui o talento do garoto nem a beleza do gol. Ainda bem que ele tem uma mãe que entende de futebol e que tem senso crítico. Segundo Gabriel Jesus, no telefonema dado pela mãe, ela disse para ele não entrar tanto em impedimento, o que está correto.

A maioria dos técnicos possui bom conhecimento, mas poucos, como Tite, conseguem transformar conhecimento em ação e eficiência. Porém, sem exageros, sem canonização. Não podemos perder o senso crítico nem ser tendenciosos.

A VITÓRIA

Nos primeiros minutos, o Brasil, em um escanteio, fez o primeiro gol, o que animou e inspirou o time. Neymar e Marcelo deram show pela esquerda. É incompreensível que um técnico experiente, como Pekerman, não colocasse um jogador para conter os avanços do lateral brasileiro. Por isso, pelo pouco talento criativo do meio brasileiro e pela qualidade do adversário, a Colômbia melhorou, equilibrou o jogo e empatou.

No segundo tempo, continuou a dependência por Neymar. Na Colômbia, entrou Cuadrado, pela direita, que conteve os avanços de Marcelo. Não entendi porque não entrou desde o início do jogo. Também não entendi porque Tite, em vez de Lucas Lima, colocou Giuliano. A partida ficou equilibrada, mas Neymar, em passe de Coutinho, decidiu para o Brasil. Nós temos Neymar. Se ele jogasse na Colômbia, provavelmente, a vitória seria dos colombianos. Aumentaram ainda mais minhas esperanças de que o Brasil poderá ter muito mais sucesso que nos anos anteriores.


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