Folha de S. Paulo


Ótimo, mas nada de euforia com a seleção brasileira

Como disse José Trajano, após a partida, no programa Linha de Passe, da ESPN Brasil, foi estranho ver uma bela, convincente e expressiva vitória do Brasil, pois estávamos desacostumados.

Nada de euforia. Foi apenas um jogo. A competição é longa, e todas as seleções vão oscilar. Por causa da colocação do Equador, parece até que o Brasil ganhou de uma excepcional seleção. Devem também ter colocado um salto mais alto que a altitude de Quito.

Nada de euforia. As duas seleções jogaram muito mal no primeiro tempo. O Brasil, apesar de bem posicionado taticamente, não trocava três passes, e Neymar jogava quase só pela esquerda, longe do gol, preocupado com o avanço do lateral.

O Equador se limitava a jogar bolas longas. No segundo tempo, o Brasil voltou melhor, fez um gol, mas só brilhou intensamente quando o Equador ficou com dez, foi todo para frente e deixou a defesa escancarada. Aí, até o discretíssimo Paulinho jogou bem.

Nada de euforia. Em pouco tempo e com muita conversa, Tite e os jogadores sabiam o que fazer. Só que erraram muito no primeiro tempo. Tite colocou os atletas da maneira que jogam em seus clubes.

Sempre gostei muito da formação tática que Tite usa, desde o Corinthians, com um volante pelo centro e dois meio-campistas que atacam e defendem, em vez de ter dois volantes em linha e um meia de ligação, como atuam quase todos os times brasileiros. Muitas equipes e seleções da Europa, há muito tempo, jogam também com um volante e dois armadores. Não foi Tite que descobriu a pólvora.

Nada de euforia. Mesmo com boa organização tática, é difícil imaginar a seleção brasileira no nível das melhores do mundo, sem um craque no meio-campo, embora Renato Augusto tenha surpreendido, desde a época de Dunga.

Os técnicos brasileiros, desde as categorias de base, precisam formar grandes talentos no meio-campo, que joguem de uma intermediária à outra. Eles desapareceram porque houve, há décadas, uma divisão no meio-campo, feita pelos treinadores, entre volantes que marcam e meias que atacam. Isso começou a mudar com Tite no Corinthians.

Nada de euforia. Temos de elogiar a eficiência de Tite, mas não podemos perder o senso crítico e achar que tudo o que ele faz é maravilhoso. O Manchester City, dirigido por Guardiola, que também erra, usa, na prancheta, o mesmo desenho tático da seleção de Tite, com um volante e dois armadores.

A grande diferença é que os dois são armadores mais ofensivos (David Silva e De Bruyne). Estou a pensar, sem saber a resposta, se não seriam melhor Lucas Lima e Philippe Coutinho em vez de Paulinho e Renato Augusto. Ou um dos dois no lugar de Paulinho. Lucas Lima e Philippe Coutinho poderiam se adaptar a uma nova função.

Nada de euforia. Será que o Brasil vai ter novamente um excepcional centroavante, Gabriel Jesus? Tomara. Se isso acontecer, melhora muito a equipe. Faltaria apenas um grande armador para formar um grande time.

Nada de euforia. Nem de depressão, se o Brasil não jogar bem e não ganhar da Colômbia. Com Tite, aumentam as esperanças de que o Brasil forme um excelente time. Além disso, saem a dureza e a rispidez de Dunga e entram a delicadeza e o discurso professoral e pastoral de Tite.


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