Folha de S. Paulo


Incertezas e imprevistos do futebol são mais sábios que nossos conhecimentos

A Olimpíada acaba hoje. Foi ótimo enquanto durou. Já está também na hora de terminar. Escrevi esta coluna antes do jogo de ontem, entre Brasil e Alemanha. Não mudei nada. Isso é perigoso.

Independentemente da atuação e do resultado de ontem, nada muda na qualidade dos atletas e do futebol brasileiro. A conquista da medalha, especialmente da de ouro, deve ser bastante comemorada. Os jogadores, desde a primeira partida, mostraram comprometimento com as vitórias. A medalha de ouro é importantíssima, mas não é mais importante que as outras medalhas de ouro conquistadas em outros esportes.

Independentemente da atuação e do resultado de ontem, o jogo não tem nada a ver com os 7 a 1 da Copa do Mundo. Isso não deveria nem ser discutido. É um torneio olímpico. A Alemanha não trouxe sequer um atleta que atuou na Eurocopa, além de não estarem presentes vários de seus melhores jogadores com menos de 23 anos. O Brasil ontem era favorito.

Independentemente da atuação e do resultado de ontem, o Brasil mostrou que ainda produz muitos jogadores de talento. A dúvida é se os três jovens da frente serão destaques no time principal e/ou estrelas do futebol mundial. Serão, brevemente, iguais, inferiores ou superiores a outros, como Douglas Costa, Philippe Coutinho, William, que estão bem em grandes equipes e que são sempre chamados para a seleção principal?

Independentemente da atuação e do resultado de ontem, quais jogadores do time olímpico serão chamados por Tite? Além de Neymar, Renato Augusto e Marquinhos são quase certos. Alguns comentaristas disseram, antes do jogo, que o time principal, do meio para frente, deveria ser o olímpico. Estão muito eufóricos e apressados. É totalmente diferente enfrentar uma equipe sub-23 e as principais seleções sul-americanas.

Independentemente da atuação e do resultado de ontem, Luan talvez seja, entre os jovens atacantes, mesmo não sendo o melhor, o mais importante para o time principal, por ter características mais coletivas, trocar mais passes e ser um jogador de conexões. Ele poderia ser o contraponto entre os vários atacantes habilidosos, dribladores e que procuram o confronto individual.

Independentemente da atuação e do resultado de ontem, Tite vai usar a estratégia de sua época no Corinthians, de ter apenas um volante, dois armadores com funções defensivas e ofensivas, um jogador de cada lado (um mais com características de armador e outro mais de atacante, como Neymar), além de um centroavante ou vai adotar a tática olímpica, com dois volantes, um jogador de cada lado, que defende e ataca, e Neymar, livre, o centro das jogadas, formando dupla com outro atacante?

O tempo, as incertezas e os imprevistos do futebol são muito mais sábios que nossos pretensiosos conhecimentos técnicos, táticos e científicos.

Chamada - Rio 2016


Endereço da página:

Links no texto: