Folha de S. Paulo


Irregularidades do Brasil têm muito a ver com o confronto individual

O ponto alto nas transmissões olímpicas da televisão foi a natação pelo SporTV, principalmente das finais, com a narração de Milton Leite, os comentários de Alex Pussieldi, Mariana Brochado e Fabíola Molina e as ótimas entrevistas, à beira da piscina, da repórter Karin Duarte.

A entrevista com Mark Spitz, grande campeão de natação, foi excepcional. Ele justificou o motivo de ter parado cedo, porque, nos anos 1970, ganhava muito mais fora das piscinas, pois era um nadador amador. Spitz completou que, com Phelps, ocorre o contrário. Uma das razões de ele permanecer por muito tempo e em forma é que, nas piscinas, como nadador profissional, ganha muito mais. São os novos tempos. Nem melhores nem piores. São tempos diferentes.

Dizem que a sala onde os nadadores ficam concentrados, geralmente tensos e calados, antes de irem para a competição, é chamada de sala da morte. Quem perde morre. Todos querem sobreviver.

As megafestas que ocorrem no Brasil e em todo o mundo, de duração variável e por motivos diferentes, como as do esporte (Olímpiada, Copa do Mundo, Eurocopa, Copa América e outras), assim como o Carnaval e tantos outros eventos próprios de cada país, existem também para dar uma pausa no cotidiano, para respirar fundo, para esquecer a finitude da existência e para lembrar que a vida é um sopro ou uma batida do coração, como diz a bela música de Gonzaguinha.

Escrevi esta coluna antes do jogo de ontem à noite, contra a Colômbia, uma seleção superior às outras três que o Brasil enfrentou. A fácil goleada sobre a Dinamarca deveria ter acontecido também nos dois jogos anteriores.

Por ter meias e atacantes hábeis e dribladores, os times brasileiros costumam ter dificuldades quando enfrentam defesas organizadas, de boa qualidade individual e que deixam poucos espaços. Por outro lado, quando estão inspirados e/ou encontram molezas, dão show de habilidade. Essa excessiva dependência de lances individuais é perigosa, daí a irregularidade. O jogo mais coletivo, com estocadas individuais, no momento certo, é mais seguro e mais regular.

O futebol brasileiro e o sul-americano vivem uma situação contraditória. Ao mesmo tempo em que há uma restrição ao individualismo de nossos meias e atacantes, os grandes times europeus são loucos para contratá-los, por serem capazes de, em um confronto individual, decidir as partidas.

Quando o Brasil ganha e joga bem, tudo se torna uma maravilha. Quando joga mal e perde, é tudo péssimo. Esse extremo comportamento, de parte da imprensa e dos torcedores, de euforia ou de depressão, atrapalha a evolução do futebol.

Ganhar a medalha de ouro é quase uma obrigação, pela fragilidade dos adversários. Com a derrota, as críticas serão duras. Parece um raciocínio maquiavélico, ardiloso, mas é a realidade. A conquista seria o início de uma recuperação ou uma ilusão, por adiar a busca por um caminho mais correto?

Chamada - Rio 2016


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