Folha de S. Paulo


Castigo e culpa, maldição, corrupção e incompetência

Nos primeiros dias de Olimpíada, fiquei perdido, confuso, sem saber ao que assistir, pois são muitas disputas ao mesmo tempo. Mudava de canal, queria ver tudo e não via nada.

Passei a selecionar alguns esportes, como basquete, natação, handebol, vôlei e ginástica artística, além do futebol. Tenho também de acompanhar o noticiário e os jogos do Brasileirão. A Lava Jato e o Congresso também não estão de férias.

No handebol, o time que não tem a bola faz, com todos os seis jogadores, uma barreira na entrada da área. No futebol, cada vez mais, acontece algo parecido. Quem perde a bola volta e forma, no mínimo, duas linhas de quatro perto da área. É difícil alguém se infiltrar para receber a bola, o que força os cruzamentos pelo alto e facilita para a defesa.

Aconteceu o que parecia impossível. O Brasil, contra o Iraque, jogou ainda pior do que contra a África do Sul. O time corre demais com a bola, dribla demais e tem pressa demais para chegar ao gol. Isso se tornou, com o tempo, uma característica do futebol brasileiro. Não é por culpa de Micale, como não era de Dunga. Dizer que falta comprometimento, comentário sempre presente nas derrotas, simplifica demais e mediocriza as razões de nossa complexa queda técnica.

Apesar das tantas deficiências, o Brasil criou muitas chances de gol nos dois jogos, por causa da pouca qualidade dos adversários. O Iraque ia para o ataque, perdia a bola e deixava enormes espaços na defesa. Nem assim o Brasil aproveitou. Achava que Neymar, contra jovens desconhecidos e inexperientes, iria deitar e rolar, mas ainda não aconteceu. Nunca o vi errar tanto.

É evidente que o planejamento e a permanência dos técnicos, na seleção e nos times brasileiros, por períodos maiores, são benéficos, mas está na hora de parar de colocar a culpa sempre na falta de tempo para as más atuações. Muitos times, rapidamente, se entrosam. Faltam aos técnicos e aos jogadores mais qualidade técnica e equilíbrio emocional. Desesperam-se por muito pouco.

Se o Brasil ganhar a medalha de ouro –é ainda candidato–, vai representar tecnicamente muito pouco, por causa da fragilidade dos adversários, mas pode simbolizar o início de uma recuperação.

Será que existe uma tragédia técnica anunciada, um castigo, uma maldição, uma culpa que tem de ser paga, por causa da corrupção e da incompetência?

Tudo começou com as derrotas nas Copas de 2006 (o Brasil era o grande favorito), de 2010, seguiu com o vexame dos 7 a 1 em 2014, com as eliminações para Paraguai e Peru nas duas últimas Copas Américas, continuaria com a desclassificação na primeira fase da Olimpíada e terminaria com o Brasil fora do Mundial de 2018. Não é o mais provável de acontecer, mas é possível. Estou com medo.


Endereço da página: