Folha de S. Paulo


Um mesmo fato pode servir para explicar tudo

Alguns dos comportamentos comuns em todas as atividades, especialmente no futebol, são o de tentar explicar tudo, com inúmeros detalhes técnicos e estatísticos, e o de usar os mesmos lugares comuns e conceitos prévios, para explicar fatos bem diferentes, às vezes, parecidos. É o argumento pronto.

Muitas coisas não se explicam, acontecem. As mudanças na tabela entre os sete primeiros colocados do Brasileirão, quase no mesmo nível técnico, não acontecem sempre porque o técnico substituiu mal ou bem, colocou o jogador dez metros para o lado, ou porque o time finalizou 12 vezes em vez de dez, e muitos outros delírios estatísticos.

Outras vezes, características e qualidades positivas se tornam negativas em outro contexto. O tão elogiado equilíbrio do Brasileirão mostra também a falta de um grande time, capaz de se distanciar dos outros, como ocorreu com o Corinthians no ano passado e com o Cruzeiro nos dois anos anteriores.

Nada disso diminui a enorme importância das milhares de informações da ciência esportiva, da estatística e dos analistas de desempenho, atividade da moda que mede e calcula tudo. Sem informação, não há conhecimento, mas o conhecimento não é apenas a informação. O perigo é a cultura da repetição, em que todos têm os mesmo dados obtidos na internet e falam a mesma coisa milhões de vezes. Ainda bem que há um grupo de críticos observadores, que contestam e discutem as verdades.

Se o Brasil ganhar a medalha de ouro no futebol masculino, o que é provável, mesmo depois da decepcionante atuação contra a fraca África do Sul, a simpatia e o conhecimento do técnico Micale e o talento individual e o ímpeto ofensivo da equipe serão exaltados. A imprensa festiva vai dizer que houve um renascimento da magia brasileira, mesmo em um torneio em que os adversários não têm nada a ver com suas seleções principais.

Se o Brasil não ganhar o ouro, as mesmas deficiências mostradas contra a África do Sul serão duramente criticadas, como a enorme distância e a falta de aproximação entre os dois do meio-campo e os quatro da frente (três atacantes e o meia-atacante Felipe Anderson), além do excessivo individualismo dos três do ataque, principalmente Neymar, e a presença de apenas dois jogadores no meio para marcar, quando o time perde a bola. Hoje, contra o fraquíssimo Iraque, a equipe deve melhorar.

Jogar com vários atacantes enfiados, perto da área, que procuram o drible o tempo todo, facilita a marcação em um time bem organizado taticamente. É preciso unir o drible e o passe, a ousadia e a lucidez, o talento individual e o coletivo.

Foi fantástica a cerimônia de abertura da Olimpíada. Imagino que no Rio, durante os Jogos, vai haver o mundo ideal, sem violência, tragédias, com grandes competições e recordes, muita alegria, confraternização. Uma grande festa. Quando acabar, volta o mundo real.


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