Folha de S. Paulo


Troca de favores e corrupção

Se existe quase um consenso de que os times brasileiros jogam demais, treinam pouco e, com frequência, perdem seus melhores jogadores para as seleções, é um contrassenso ter mais um campeonato, a Primeira Liga, sem diminuir o número de partidas nas outras competições.

Alguns divergem que há um excesso de jogos, já que quase todos os atletas, por contusões, suspensões ou por serem poupados, atuam menos vezes que suas equipes. Acham que o limite de partidas deveria ser em relação aos jogadores, e não aos clubes.

Como o Brasileirão é o campeonato mais importante, deveria parar quando as seleções atuassem, durar mais tempo, sem aumentar o número de jogos, e ter partidas apenas nos fins de semana. No mesmo período, no meio das semanas, seriam jogadas as Copas do Brasil, a Sul-Americana e a Libertadores. Outros campeonatos, como os estaduais e as copas e ligas, além de amistosos, seriam realizados antes do Brasileirão e depois dos 30 dias de férias e mais um período para treinamentos.

O futebol brasileiro precisa de uma liga nacional, independente, forte e comandada pelos clubes. A CBF ficaria apenas com as seleções de base e principal, mesmo assim se houvesse uma mudança de estrutura e de nomes na entidade.

A participação das emissoras de televisão, dos investidores e patrocinadores é importante para o crescimento e a divulgação do esporte, desde que não sejam os donos do calendário e dos horários das partidas e que seus interesses financeiros e de audiência não estejam acima das necessidades do futebol e da qualidade do jogo.

A realidade é outra. Os clubes, além de mal administrados, são cúmplices da promiscuidade que existe no futebol. A troca interesseira de favores é um caminho para a corrupção, dois flagelos que assolam o país e o esporte.

Treinadores e coordenadores técnicos que assumem as seleções de base e principal deveriam terminar com todos os seus vínculos com empresários, para evitar conflitos de interesse. Não se pode desconhecer a desmedida ambição humana. Ninguém tem imunidade. A regra é para todos.

A Lava Jato precisa chegar ao futebol, antes que criem leis para obstruir as investigações da Justiça. É urgente também a aprovação das dez leis contra a corrupção, proposta pelo Ministério Público, que está parada no Congresso.

Formado por atuais e ex-atletas, o Bom Senso F. C., que tem visão crítica e contribuído para melhorar o futebol, não deveria acabar. Outro dia, um jornalista me perguntou por que não participo. Porque, como colunista, preciso ter total independência, sem nenhum constrangimento, para elogiar ou criticar, seja quem for. Pela mesma razão, já recusei trabalhar na CBF como coordenador técnico, prêmios, homenagens e evito ir a eventos e festividades ligadas ao futebol.

Às vezes, me faço concessões, como a de ter ido recentemente, com prazer e orgulho, colocar meus pés na calçada da fama dos jogadores que fizeram a história do Cruzeiro.

No passado e no presente, em todas as atividades, ligadas ou não ao futebol, existem muitas pessoas que se emocionam, fazem belos discursos éticos e sociais, mas que, em suas atividades, se comportam de uma maneira bem diferente do que falam.


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