Folha de S. Paulo


Consolo prosseguido

O São PAULO, por jogar fora de casa, pelos desfalques, pela desvantagem de dois gols e por enfrentar um time superior, tem mínimas chances de chegar à final da Libertadores. Mas nada é impossível. Seria heroico.

Deveria o São Paulo, desde o início, pressionar, arriscar, tentar fazer um gol primeiro e assustar o time colombiano, mesmo correndo o risco de sofrer um gol e acabar o jogo, ou deveria, sem pressa, aos poucos, tentar fazer os gols de que precisa? Não sei.

Na Eurocopa, Portugal ganhou pela vontade e por méritos, como ter uma sólida defesa presente em todas as partidas, enquanto a França repetiu as falhas individuais e coletivas. A França, como todas as grandes seleções da Europa, mostrou um futebol organizado, porém, com pouca diversidade de jogadas e improvisação. Pogba atuou muito recuado, como primeiro volante, contrariando sua principal qualidade, a inventividade, mais perto da área adversária. Benzema fez falta. Giroud é um artilheiro. Benzema é um craque artilheiro.

Portugal começou a ter chances de ganhar a Eurocopa quando definiu, após o primeiro jogo, que iria priorizar a recomposição de todos os jogadores, menos Cristiano Ronaldo, para esperar o outro time e contra-atacar.
As equipes superiores têm cada vez mais dificuldade de vencer os bloqueios na entrada da área. Quem tem a bola troca passes, ronda a área, mas não encontra espaços para alguém se infiltrar e fazer o gol. Sente falta também de grandes atacantes dribladores, mais frequentes nas seleções sul-americanas. Apela para cruzamentos aéreos, que, geralmente, não funcionam.

No Brasileirão, não há ainda um time nitidamente superior, como havia o Corinthians no ano passado, a partir do segundo turno. Neste ano, o Corinthians perdeu alguns de seus principais jogadores, mas continua entre os melhores. O time, com Cristóvão Borges, mantém o estilo e a qualidade que tinha com Tite. Cássio, Fagner, Marquinhos Gabriel, Giovanni Augusto e o reserva Guilherme, que deveria ser titular, estão entre os melhores do campeonato em suas posições.

Cristóvão, nas equipes anteriores que comandou, tentou, por ser estudioso, inovações com insucessos, como jogar com os zagueiros adiantados. No Corinthians, ele mantém a estratégia de Tite, com os zagueiros posicionados na intermediária, mais ou menos na mesma distância da grande área e da linha de meio-campo. É mais sensato. Assim, não existem enormes espaços nas costas dos defensores, nem entre eles e os meio-campistas.

O Grêmio, mesmo sem bons reservas em algumas posições, continua entre os melhores, como no ano passado. Falta um empurrão para a equipe ter mais chance de ganhar o título. Seria Bolaños, mas ele ainda não se destacou, ao contrário de Cazares, seu reserva na seleção equatoriana, que brilha no Atlético-MG.

Atlético-PR e Ponte Preta estão muito bem colocados. Como o nível técnico do campeonato é apenas regular, os dois têm chance de se manterem próximos, ou até fazer parte da turma de cima. O equilíbrio está ainda mais evidente que nos campeonatos anteriores.

João Guimarães Rosa escreveu que a vida é um descuido prosseguido. Parafraseando o grande escritor, o tão exaltado equilíbrio do Brasileirão é um consolo prosseguido.


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