Folha de S. Paulo


Dependência do aconchego

Se o São Paulo repetir hoje as ótimas e heroicas atuações que teve no Morumbi, na atual Libertadores, tem grande chance de vencer o bom time do Atlético Nacional. O São Paulo é uma equipe que possui ordem e, como gosta muito de dizer Bauza, ordem não se negocia. Porém, receio que falte a transgressão de Ganso, não para violar a ordem, mas para dar a ela mais vida, mais criatividade.

No Brasileirão, as melhores equipes geralmente jogam bem e/ou ganham em casa e jogam mal e/ou perdem fora. São carentes, dependentes do aconchego da torcida e de seus estádios. O Flamengo, como não tem casa, o aconchego do Maracanã, merece elogios pela campanha. O Cruzeiro é a exceção que confirma a regra. É o primeiro como visitante e o último como mandante, mesmo com o aconchego de sua torcida, pois tem a quarta melhor média de público.

Os times que conseguirem ganhar vários jogos fora disputarão o título. Óbvio! O Palmeiras saiu na frente, por ter hábeis e rápidos atacantes, um bom e grande elenco e um excelente treinador, apesar de suas esquisitices.

Pato está de volta. Como o Corinthians não consegue negociá-lo e tem de pagar seu absurdo salário, vai recebê-lo, e quem sabe poderá ser até um reforço.

Veremos novamente milhões de discussões e comentários diários sobre Pato nos programas esportivos, do tipo "não brilha porque não tem gana" e "ninguém duvida de seu enorme talento". Eu duvido. Falta a Pato a principal qualidade para ser um grande jogador, a lucidez nas decisões. Pato é confuso e erra demais. É um jogador dividido, esquizofrênico em campo, pois não consegue unir as partes, as qualidades técnicas, e formar um todo. Vive de espasmos, de alguns momentos brilhantes.

Há vários jogadores como Pato. Um grande atleta não é apenas a soma de seus dados estatísticos. Essa falta de completude, de maturidade, de lucidez, que vai além do campo, é uma das deficiências do jogador brasileiro.

ESPERANÇA

Na vitória nos pênaltis sobre a Itália, a Alemanha, pela primeira vez na Eurocopa, jogou com três zagueiros, como faz habitualmente a Itália. Como os alas das duas seleções não têm talento ofensivo, os ataques ficaram enfraquecidos. A Itália atuou como a Itália. Esperava mais da Alemanha. Guardiola, quando quer atacar mais, coloca três zagueiros e sete no campo adversário. Troca um defensor por mais um jogador de frente. Os alas viram pontas, atacantes.

O Brasil, por ter dois laterais habilidosos e ofensivos, Daniel Alves e Marcelo, é a seleção com melhores condições de atuar com três zagueiros. Tite tem várias opções. O sistema tático vai depender da posição e da função de Neymar, se ele vai atuar como no Barcelona, da esquerda para o centro, ou mais adiantado pelo meio, como nas últimas partidas com Dunga, ou se vai formar uma dupla de ataque com o centroavante.

Provavelmente, o ataque da seleção olímpica será formado por Neymar, Douglas Costa e Gabriel Jesus, cada dia melhor depois que Cuca o colocou mais adiantado e pelo centro. Não será surpresa se esse for o ataque do time principal, já nas eliminatórias, em setembro. Aumentaram minhas esperanças de que o Brasil possa ter um time bem melhor, apesar da falta de um excepcional meio-campista.


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