Folha de S. Paulo


O placar da galhofa

Na quarta-feira, aconteceram os 7 a 0 de Portugal sobre a Estônia e os 7 a 1 do Brasil sobre o Haiti. A Estônia, na comparação com o Haiti, é um timaço.

Nem a turma do oba oba exaltou e comemorou a vitória brasileira. Deve ter ficado inibida por causa dos 7 a 1 para a Alemanha, placar da galhofa. Philippe Coutinho não deveria ter marcado o sétimo gol para não estimular as piadas. Outros podem ter gostado, ainda mais que o placar poderia trazer uma consequência parecida com a técnica usada por alguns psicólogos de fazer a pessoa vivenciar o trauma, o medo, para exorcizar o fantasma.

Não dá para comparar a atuação de Jonas no primeiro tempo com a de Gabigol no segundo, já que o fraquíssimo Haiti foi todo para frente, para tentar um gol, e deu todas as condições para os atacantes brasileiros fazerem o que quisessem. Dizer que Jonas não tem gana de gol é bobagem, pois é artilheiro de quase todas as equipes em que atua. Por não ser individualista, Jonas joga do mesmo jeito contra o Haiti e contra a Alemanha. Não aproveita a mamata.

Jonas é um bom atacante, mas não é o centroavante que o Brasil precisa. Já Gabigol é uma esperança, assim como Gabriel Jesus e Luan, do Grêmio.

Hoje, contra o Peru, Dunga pode escalar Wallace no lugar de Casemiro, suspenso, por ter características parecidas, ou recuar Renato Augusto ou Elias, para fazer a função de Casemiro, e colocar Lucas Lima. O mais importante é manter a formação tática, com apenas um volante e mais um armador de cada lado, em vez de dois volantes em linha e um meia de ligação. Essa é a dificuldade do técnico para escalar Lucas Lima ou Ganso. O time melhorou coletivamente com a nova formação e tem se aproximado e trocado mais passes. Dunga também faz coisas certas.

Assistir aos jogos do Brasileirão, da Copa América e da Eurocopa ajudam no entendimento do futebol. Após a Copa de 2002, jornalistas alemães disseram que a Alemanha, vice-campeã, era a pior de todas as copas. Sem desmerecer a vitória brasileira e o magistral trio ofensivo, formado por Rivaldo, Ronaldo e Ronaldinho, o futebol estava muito ruim em todo o mundo.

Após o Mundial, a Alemanha, a Espanha e outros países europeus passaram a jogar um futebol mais agradável, coletivo, com mais troca de passes e posse de bola. Enquanto isso, no Brasil predominava o drible, o excesso de chutões, faltas, jogadas aéreas e lances isolados. Isso tem mudado. Veremos isso hoje nos clássicos brasileiros.

Por causa dessa diferença, o passe, símbolo do jogo coletivo, passou a ser prioridade na Europa, com o surgimento de grandes meio-campistas, como Iniesta, Xavi, Kroos, Modric, Pogba e outros.

Na América do Sul, por causa do drible, representante do talento individual, se destacavam os meias ofensivos e atacantes habilidosos, improvisadores, agressivos, como Neymar, Messi, Di Maria, Willian, Douglas Costa, Philippe Coutinho e outros.

Com a diminuição dos espaços entre os setores, os clássicos meias de ligação têm sido, progressivamente, substituídos pelos meio-campistas, mistura de volantes e meias.

O ideal é ter o passe e o drible, o talento individual e o coletivo, o planejamento e a improvisação, a técnica e a fantasia.


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