Folha de S. Paulo


Esperanças

Como não sou um otimista prepotente, que nega a realidade, nem um pessimista convicto, que só enxerga o pior, tenho esperança de que a seleção brasileira evolua nos próximos anos.

Tenho esperança que Thiago Silva, um dos melhores zagueiros do mundo, e Marcelo, o principal lateral esquerdo apoiador do planeta, sejam reconvocados.

Os dois são os únicos brasileiros na seleção dos melhores da Liga dos Campeões. Como o Brasil já tem outro ótimo lateral, Filipe Luís, Marcelo poderia ser uma alternativa quando o time precisasse de um lateral mais avançado ou como um meia pela esquerda.

Tenho esperança que alguns jovens, como Gabriel e Gabriel Jesus, evoluam e sejam rotineiramente convocados para a seleção principal. Por outro lado, ficarei surpreso se algum deles se tornar uma estrela do futebol mundial. Gabriel se destaca mais por poucos lances e pela precisão nas finalizações, enquanto Gabriel Jesus é mais driblador, envolvente e com repertório mais amplo.

Por causa do gol de Gabriel contra o fraquíssimo Panamá, o apressado Galvão Bueno já o pediu no time titular, além de repetir o bordão do primeiro gol de Ronaldinho Gaúcho na seleção: "Menino Gabigol".

Haja paciência. São situações bem diferentes. Ronaldinho já pintava como fenômeno. Compararam também o primeiro gol de Gabriel com o primeiro de Neymar, contra os EUA. A semelhança é só no gol. Neymar já mostrava que seria um dos grandes do futebol mundial, o que já é.

Muitos jornalistas esportivos têm o hábito de, indevidamente, precocemente, exaltar demais os jovens promissores, para, depois, criticá-los, por não terem se tornado os craques que esperavam. O erro está na avaliação, não no atleta.

Tenho esperança que Ganso seja convocado, o que já deveria ter acontecido. Mesmo jogando demais, continua o discurso pronto, repetitivo, de que ele é lento, irregular, apático e que está distante do Ganso do Santos. Hoje, é melhor. Além de excepcionais passes, faz mais gols, atua em um espaço maior e participa da marcação.

Tenho esperança que Casemiro seja o volante titular da seleção e superior a Luiz Gustavo. Casemiro não é um Busquets, mas é forte, alto, desarma muito, se posiciona bem e tem bom passe. Não é surpresa seu sucesso no Real Madrid. Ele já mostrava talento nas seleções de base e no São Paulo, apesar de muito criticado e rotulado de lento e de mascarado. Queriam que ele fosse mais um volante brucutu, grosso, rápido e trombador.

A diferença de Casemiro na seleção é que, no Real Madrid, ele tem Kroos de um lado e Modric do outro. No Brasil, há bons armadores, como Elias, Renato Augusto, Lucas Lima e outros, mas o nível técnico é muito menor.

Tenho esperança que Dunga evolua, que alargue sua visão estreita, que se preocupe menos com picuinhas e que seja menos reativo nas entrevistas. O ideal seria que ele e outros treinadores tivessem ao lado um auxiliar ou companheiro com bons conhecimentos, com conceitos próprios, para discutir, em vez da companhia apenas de fiéis e silenciosos escudeiros, como Murtosa (auxiliar de Felipão), Cebola (auxiliar de Dunga) ou de parentes e amigos. O Vasco está à frente dos outros, com Jorginho e Zinho.


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