Folha de S. Paulo


As coisas vão e voltam

Há 50 anos, eu estreava na seleção em amistosos de preparação para a Copa de 1966. Recentemente, a seção "Há 50 anos", da Folha, dizia: "Pelé está mais pesado". Era verdade. Quatro anos depois, ele estava em grande forma, na Copa de 1970.

Há 50 anos, na Copa de 1966, a seleção inglesa, campeã do mundo, inovava ao jogar com duas linhas de quatro e dois atacantes (4-4-2). Os meias avançavam pelas pontas e, ao perder a bola, recuavam para marcar ao lado dos dois volantes.

Cinquenta anos depois, a maioria das equipes, em todo o mundo, faz o mesmo. Evidentemente, com mais velocidade e intensidade.

Como não havia o meia de ligação pelo centro, alguns treinadores ingleses recuavam um dos dois atacantes para armar as jogadas. Chamavam de 4-4-1-1, idêntico ao atual 4-2-3-1. Alguns atuais treinadores, que escalam três no meio e três na frente (4-3-3), preferem, em vez de dois volantes e um meia pelo centro, escalar um volante e dois armadores, que marcam e atacam.

Como os dois atacantes pelos lados costumam também voltar para marcar quando o time perde a bola, a equipe marca com cinco (um volante, dois armadores e dois atacantes pelos lados) e ataca com cinco (dois armadores, dois atacantes pelos lados e um centroavante).

Assim, atuou a Alemanha, contra o Brasil, na Copa de 2014. O Corinthians e outras equipes que atuam no 4-1-4-1 também marcam e atacam com cinco. Se quiser, pode chamar de 4-5-1.

De 50 anos para cá, quase todas as equipes europeias, quando perdem a bola, marcam com duas linhas de quatro. O Brasil, com exceção das seleções nas Copas de 1994, que ganhou, e de 2006, que perdeu, ambas dirigidas por Parreira, nunca tinha jogado no 4-4-2.

Isso mudou recentemente, antes da Copa de 2014, com o Corinthians, dirigido primeiro por Mano e depois por Tite, campeão do mundo em 2012. O Corinthians parecia um rígido time inglês. Hoje, quase todas as equipes brasileiras, quando perdem a bola, marcam com duas linhas de quatro.

Como hoje os jogadores se movimentam muito e fazem mais de uma função durante a partida, está ultrapassado analisar as equipes pelos números do sistema tático. Até Marco Polo del Nero, que não entende de futebol e que não viaja com a seleção com receio de ser preso, sabe desenhar na prancheta o sistema do time brasileiro.

Muricy Ramalho ficou um mês no Barcelona. Viu tudo e adotou o 4-3-3 do time catalão no Flamengo. Na prancheta, era tudo igual. Na prática, tudo diferente. As principais características do Barcelona, o enorme talento individual, a troca de passes desde o goleiro, a aproximação para fazer triangulações e a tentativa de recuperar a bola aonde a perdeu, não existem no Flamengo.

Os atacantes pelos lados, Emerson e Marcelo Cirino, não têm habilidade para recuar, se misturar aos três do meio e chegar ao ataque trocando passes. Marcelo foi bem no Atlético-PR porque o time atuava nos contra-ataques para aproveitar sua velocidade.

Se Muricy continuasse, uma das soluções do Flamengo seria voltar ao "Muricybol", de muita marcação e de jogadas aéreas. Bastaria contratar dois grandalhões, bons de cabeça, e um ótimo cobrador de faltas e escanteios. Seria o mais fácil.

Muricy, sorte e ótima recuperação!


Endereço da página:

Links no texto: