Folha de S. Paulo


Verdades, equívocos e lendas

Antes de começar o Brasileirão, fiz uma divisão grosseira, que costuma ser desmentida no fim, baseada na história, no prestígio e no gasto dos clubes, entre os dez primeiros, que disputariam uma vaga na Libertadores e até o título, e os outros dez, que lutariam para ser surpresas e fugir do rebaixamento.

Na rodada anterior, houve seis jogos entre os times do primeiro e do segundo grupo. Apenas um do primeiro venceu, o Santos, mesmo assim em casa. Foram duas vitórias da turma de baixo e três empates. O emocionante e tão falado equilíbrio poderá ser ainda maior neste ano. Isso aumenta a chance de aparecer quase um Leicester, um pequeno na Libertadores.

A cada rodada do Brasileirão, vai surgir um novo craque, um novo candidato ao título e ao rebaixamento, um novo gol mais bonito, um novo frangueiro, um novo pereba, um novo erro grave de um árbitro.

A excessiva expectativa em relação a algumas equipes termina em frustração. Muitos acharam que a contratação de alguns bons jogadores faria do Flamengo um grande time, dirigido por um excepcional técnico. Nem uma coisa nem outra. Não é também uma porcaria. O Atlético-MG achou que o time e o elenco eram muito superiores aos outros e ficou decepcionado com a eliminação na Libertadores.

No ano passado, o Grêmio despertou uma grande curiosidade, com algumas excelentes partidas e por ter um técnico moderno e eficiente. Esqueceram que tinha várias deficiências, que saíram vários titulares e que Roger era uma grande promessa. Tem grande chance de se tornar um excepcional treinador.

Para muitos, mesmo com a saída dos melhores jogadores, Tite faria mágica. O 4-1-4-1, que achavam revolucionário, é agora criticado por estar muito manjado. Não é por aí. Estranhei muito Tite ter barrado o goleiraço Cássio.

Penso que a crítica é muito dura com goleiros e zagueiros quando o time sofre gols em jogadas aéreas. Contra o São Paulo, Douglas Santos fez um excepcional cruzamento, forte, de curva, com a bola saindo do gol, sem subir muito, caindo atrás de Rodrigo Caio, para Carlos marcar. Era impossível o zagueiro cabecear e o goleiro sair do gol. Mesmo assim, foram criticados. Se Caio tivesse se posicionado um pouco atrás, ao lado de Carlos, sobraria espaços à sua frente para outro entrar livre. Não foi erro. São situações de jogo.

No futebol, alguém diz algo interessante, mesmo equivocado, outro repete, geralmente da mesma turma, e a falsa verdade se espalha rapidamente. Vira um chavão, que se perpetua por uma semana, um ano, e até para sempre. Passa a ser narrada nos botequins, nos programas esportivos e nos encontros científicos. Torna-se lenda.

DOIS ESTILOS

No sábado, teremos a grande final da Liga dos Campeões, entre Real Madrid e Atlético de Madri. Não há favorito. São dois estilos diferentes. O de Simeone, o "cholismo", de um jogo intenso e seguro, de máxima concentração durante os 90 minutos, contra o de Zidane, que ainda não definiu bem suas preferências, mas que tende a ser um estilo mais vistoso, sem perder a eficiência. Os dois estilos se completam e funcionam. Não tem de ser uma coisa ou outra. Quem tem bom senso e tenta ser um observador neutro é criticado por estar em cima do muro.


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