Folha de S. Paulo


Futebol é muito complexo

Quantos dos quatro brasileiros vão se classificar na Libertadores? Atlético-MG e Corinthians empataram em 0 a 0, precisam de uma vitória, mas não podem empatar com gols. Isso é perigoso.

O Atlético-MG é o time brasileiro com mais jogadores de boa qualidade. Por outro lado, possui sete titulares (Victor, Marcos Rocha, Douglas Santos, Leonardo Silva, Erazo, Rafael Carioca e Pratto) muito superiores aos reservas, um dos motivos de os sete terem jogado contra o América-MG (Pratto entrou no segundo tempo). Será que os jogadores estarão fisicamente desgastados? Já o Corinthians teve uma semana para treinar. Isso será importante?

Será que o Toluca, em casa e na altitude, vai golear, como fez o São Paulo no Morumbi? A chance de a equipe mexicana se classificar é mínima, mas não impossível. Será que Bauza vai barrar Ganso, para formar uma linha de cinco jogadores à frente dos quatro defensores, como fez contra o Strongest?

Será que o Grêmio vai pressionar, dominar a partida e ganhar, como fez o Rosario Central em Porto Alegre? Será um jogo dificílimo para o Grêmio, mas é possível. Ou a melhor estratégia seria marcar mais atrás para contra-atacar? Assim, o Palmeiras fez três gols em Rosario.

Tenho muitas dúvidas. A ciência esportiva tem muitas explicações, essenciais para o entendimento e a evolução do futebol, mas não explica coisas importantíssimas, como o que vai acontecer em um jogo e por que um time pequeno e inferior ganha, cada vez mais frequentemente, de um superior. Será que o pequeno Leicester, campeão inglês, vai iniciar uma nova fase no futebol mundial, a de times pequenos, de vez em quando, serem campeões, mesmo em competições longas e por pontos corridos?

Uma das evoluções do futebol, nos últimos tempos, foi a de que os times pequenos e/ou inferiores aprenderam a se posicionar muito bem defensivamente, a anular os grandes e a ganhar no contra-ataque. No passado, os espaços eram maiores e facilitavam para as equipes superiores.

Todas essas dúvidas e incertezas me fazem lembrar o filme "Zorba, o Grego" –vi umas dez vezes–, quando Zorba, um homem rude, pergunta ao culto patrão sobre o que existe após a morte. Ele responde: "Os livros têm muitas explicações sobre a vida, mas não sabem nada do que acontece depois da morte". Zorba retruca: "Então seus livros não servem para nada".

COMITÊ DE REFORMAS

O ex-jogador Ricardo Rocha, comentarista do SporTV e membro do Comitê de Reformas da CBF, disse que a maior dificuldade do comitê é fazer um bom calendário.

Deve ser impossível para a CBF, que precisa agradar à TV Globo e às outras emissoras, preocupadas com a audiência, aos clubes e federações estaduais, que vivem de troca de favores, aos empresários, que querem lucrar com o dinheiro investido, aos jogadores e treinadores, que querem, com razão, jogar menos partidas durante o ano, e aos torcedores, que querem ingressos mais baratos. A CBF não tem também credibilidade nem independência.

A CBF e os donos do futebol só não tentam agradar ao mais importante, à qualidade do jogo. Esquecem que sem bons espetáculos não existe possibilidade de lucros estáveis e duradouros.


Endereço da página:

Links no texto: