Folha de S. Paulo


Nem gênios nem burros

Quando o Atlético-MG foi rebaixado para a segunda divisão do Brasileiro em 2005, vários torcedores disseram que Tite tinha sido o pior técnico da história do Galo. Tite estudou, evoluiu e é hoje o melhor técnico do Brasil. Certamente, não foi também o único nem o principal responsável pela queda do time.

Luxemburgo, décadas atrás, era chamado de supertécnico, o melhor treinador brasileiro. Nos últimos anos, foi muito criticado e tratado como decadente. Dizem que passou a se preocupar apenas em querer ser o dono do mundo e se esqueceu do futebol.

Os conceitos de Felipão em 2002 e em 2014 eram os mesmos. Após 2002, o futebol evoluiu muito na Europa e Felipão e a maioria dos técnicos brasileiros ficaram para trás. Não foi essa a única razão do sucesso em 2002 e do fracasso em 2014. Em 2002, a seleção tinha um trio ofensivo espetacular, formado por Ronaldo, Ronaldinho e Rivaldo, que encobria os erros coletivos. Em 2014, os adversários eram melhores e a pressão emocional de ganhar em casa e as deficiências individuais contribuíram para a derrota.

Existem dezenas de fatores envolvidos no resultado e na atuação dos técnicos. Além da evolução ou da queda técnica, ocorre, muitas vezes, uma sequência de detalhes previsíveis e imprevisíveis que muda a trajetória dos técnicos e das equipes. Por isso, não devemos ser apressados em fazer análises definitivas. Por isso, tenho dúvida se Luxemburgo era um técnico tão bom como diziam tempos atrás e se é tão desatualizado como falam agora.

Claudio Ranieri, técnico do pequeno Leicester, a grande surpresa do futebol mundial, já classificado para a próxima Liga dos Campeões e quase campeão inglês, nunca venceu um título nacional de primeira divisão, mesmo com uma longa carreira e mesmo tendo treinado grandes equipes. Era chamado de medíocre, retranqueiro. Ranieri evoluiu tanto ou foi uma sequência de fatores e de acasos que levaram o time à atual situação? A estratégia do técnico é a mesma da época das derrotas, defender com quase todos os jogadores na entrada da área e contra-atacar em velocidade.

Em 1998, antes da Copa, fui a Valência para entrevistar Romário para o programa "Um Tostão de Prosa", da ESPN Brasil. O técnico era Claudio Ranieri. Assisti a um treino coletivo. Romário dominou uma bola na entrada da área, com um zagueiro à sua frente, além do goleiro, adiantado e atrás do defensor. Romário levantou a bola com um pé e, com o outro, jogou por cima dos dois e fez o gol. Genial! Segundo Romário, Ranieri não gostou e disse a ele que era gol de treino e que ele só deveria fazer no treinamento o que poderia realizar no jogo. Romário respondeu: "Você não conhece minha história".

LIGA DOS CAMPEÕES

O Bayern, contra o Atlético de Madri, terá mais chances de chegar à final, como tinha o Barcelona. O Bayern não tem um Messi, um Neymar, mas, além de grandes jogadores, possui uma ótima vantagem sobre o Barcelona, a de usar muito bem a jogada aérea, quando necessário, ainda mais contra um sistema defensivo tão forte quanto o do Atlético de Madri.

Na outra semifinal, o Real Madrid tem mais possibilidade de eliminar o Manchester City do que o Bayern ganhar do Atlético de Madri. Não há certeza de nada.


Endereço da página:

Links no texto: