Folha de S. Paulo


Nó tático é papo furado

Há várias maneiras de ganhar e de perder. Resumidamente, há duas estratégias básicas de marcação e na maneira de jogar. Uma é intercalar a marcação por pressão na saída de bola, para evitar que o adversário troque passes desde a defesa, com a mais recuada, para fechar os espaços, recuperar a bola e contra-atacar. A posse de bola e a troca de passes não são prioridades.

Algumas equipes priorizam mais a marcação por pressão, e outras, a marcação mais recuada.

A maioria dos times pequenos, por falta de qualidade, tenta marcar mais atrás, mas não consegue contra-atacar. Fica acuada, geralmente perde o jogo, mas é a única chance de ganhar dos grandes.

O Real Madrid, fora de seu habitual, marcou mais atrás, contra-atacou e ganhou do Barcelona. Não confunda com retranca, nem foi um nó tático, como alguns disseram, já que a maioria das equipes da Europa atua dessa forma. Assim, o pequeno Leicester surpreende a Inglaterra e o mundo. Assim, o Chelsea eliminou o Barcelona na Liga dos Campeões de 2012. Assim, o Corinthians ganhou do Chelsea e foi campeão do mundo. Assim, o Atlético de Madri, com jogadores inferiores, às vezes, vence os grandes da Espanha.

Uma segunda estratégia, usada por poucas equipes, como Barcelona e Bayern, é marcar por pressão em todo o jogo, priorizar a posse de bola e a troca de passes, dominar a partida e jogar no campo do adversário. É a maneira mais encantadora de vencer.

Mas nem sempre dá certo, já que o time deixa espaços na defesa para os contra-ataques.

A seleção e a maioria das equipes brasileiras não usam uma estratégia nem outra. Não marcam por pressão, não priorizam a posse de bola e a troca de passes nem se destacam pela marcação mais recuada e pelos rápidos contra-ataques. Tentam diminuir os espaços, mas não conseguem, já que os armadores avançam e os zagueiros continuam encostados à grande área. Nos últimos anos, o Corinthians foi uma exceção, um dos motivos de ter ido tão bem.

Cuca não deu também nó tático em Tite. Ele fez duas coisas básicas, essenciais, incentivou a troca de passes e distribuiu bem os jogadores em campo, com dois volantes, um armador de cada lado, que também marcavam os laterais adversários, e dois atacantes.

Gabriel Jesus jogou livre, próximo ao centroavante, e não pela esquerda, com a obrigação de voltar para marcar, como fazia. O time jogou no tradicional 4-4-2 inglês, iniciado há 50 anos e que continua atual.

Os elogios a Cuca e ao Palmeiras foram tantos, como se fosse um feito extraordinário ganhar do Corinthians. Com o modesto elenco atual, dificilmente o Corinthians, mesmo com Tite, terá grande sucesso nas competições mais importantes do ano. Tite é um ótimo técnico, mas não é uma maravilha, como tem sido tratado.

Depois do clássico, Cuca respondeu a dezenas de perguntas e recebeu muitos elogios. Perguntavam e elogiavam ao mesmo tempo.

Cuca parecia um mago da estratégia, que tinha vencido o deus Tite. Cuca, sensato, humilde, constrangido e com sua cara de lamento até nas vitórias, diminuiu logo o oba-oba, ao dizer que estava em débito, pois teve quatro derrotas e duas vitórias.


Endereço da página:

Links no texto: