Folha de S. Paulo


Grandes dilemas

O tempo passa, e continua o discurso de que o 4-2-3-1 é o sistema da moda. Os quatro melhores times do mundo (Barcelona, Bayern, Real Madrid e PSG) e o Corinthians não usam dois dos pilares dessa maneira de jogar, dois volantes em linha, mesmo que um avance mais, e o clássico meia de ligação, camisa 10, centralizado, a grande paixão dos saudosistas.

Essas equipes atuam com três no meio-campo (um volante e um meio-campistas de cada lado, que ataca e defende), um jogador de cada lado e um centroavante. Atacam e defendem com cinco. Pode chamar de 4-1-4-1, 4-3-3, 4-5-1. Não faz nenhuma diferença.

O importante são as características comuns, como a aproximação dos jogadores para trocar passes e fazer triangulações, a pressão em quem está com a bola, os poucos espaços entre os setores e outras. Bayern e Barcelona são diferentes. Tentam mais recuperar a bola onde a perderam, jogam quase toda a partida no campo do adversário e, por isso, há pouca necessidade de os jogadores pelos lados voltarem para marcar. Fazem quando precisam. Neymar mais que Messi.

Barcelona e Bayern têm também particularidades entre si. O Barcelona possui uma maneira de jogar definida, clássica, que se repete. Já o Bayern muda as posições e funções dos jogadores e o sistema tático até na mesma partida, às vezes, de maneira excessiva e equivocada.

O Bayern, com frequência, joga com dois pontas abertos e uma dupla de atacantes. Na prancheta, é o 4-2-4 dos anos 1960. Às vezes, troca um dos dois armadores por um quinto atacante, como no início do segundo tempo contra a Juventus. O time fez dois gols e empatou o jogo. Na prorrogação, o inquieto Guardiola voltou ao desenho tático anterior, ao colocar o armador Thiago Alcântara no lugar do atacante Ribery. O Bayern fez mais dois.

Diferentemente do time catalão, o Bayern usa muito as jogadas aéreas para os dois altos e ótimos cabeceadores, Müller e Lewandowski. Assim, saíram os dois primeiros gols. São passes pelo alto, e não cruzamentos para a área para contar com a sorte, como acontece com os times brasileiros.

Assim como o Barcelona une a troca curta de passes da época de Guardiola com os atuais e rápidos contra-ataques, o Bayern associa o estilo espanhol com a disciplina tática, a persistência e a precisão alemãs. As duas equipes juntam o passado com o presente, o estilo encantador, fantasioso e de improvisação dos anos 1960 e 1970 com o avanço da ciência esportiva a partir dos anos 1980. As duas visões, romântica e científica, são necessárias e se completam.

Nos anos 1960, os melhores times e jogadores brasileiros eram superiores aos melhores times e jogadores europeus. Hoje, o torcedor e/ou apreciador do bonito e bem jogado futebol vive um dilema, se dá preferência aos grandes jogos da Europa, pela TV, ou se se apega à paixão do nosso cotidiano e da nossa realidade. Alguns argumentam que é preciso valorizar mais nosso futebol e não copiar o que é feito fora, enquanto outros pensam que deveríamos aprender com as grandes equipes da Europa. Infelizmente, é uma inversão da história do futebol.


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