Folha de S. Paulo


Tudo começou no pub

A chegada ao Brasil, brevemente, do uso da tecnologia durante as partidas, com a presença de um vídeo fora e próximo ao gramado, comandada pelo quarto árbitro, será importante para saber se a bola ultrapassou a linha do gol e para diminuir poucas, graves e decisivas falhas das arbitragens. É impossível definir, com precisão, alguns lances pelo olhar. Não são erros. São limitações humanas. A grande deficiência dos árbitros brasileiros está na marcação de faltas, pênaltis e no uso dos cartões.

Já foi aprovada, como a Folha noticiou, o fim das três punições em um único lance, quando um árbitro marca um pênalti, que, às vezes, não existiu, expulsa um jogador, quando há clara chance de gol, além da suspensão automática para a partida seguinte. Era uma punição exagerada.

O amigo e médico Ciro Filogonio sugere, o que concordo, que a bola só ficasse fora de jogo se tocasse o chão fora do campo. Isso permitiria que fossem cobrados escanteios em curva, com a bola saindo e entrando no campo, para cair na entrada da área. Seria um recurso técnico. No basquete, é assim.

Algumas ótimas mudanças pontuais ocorreram nos últimos tempos, como a proibição de atrasar, intencionalmente, a bola para o goleiro segurá-la com as mãos, e a vitória passar a valer três pontos.

Alguns acham que nos empates por 0 a 0 os dois times não deveriam ganhar pontos, o que discordo. O placar de 0 a 0, às vezes, acontece em boas partidas, como a entre Colo-Colo e Atlético-MG.

Nos anos 1990, comentei, em São Paulo, pela televisão, ao vivo, a partida que servia de teste para mudar a regra do impedimento. Foi péssimo. Os jogadores, quando perdiam a bola, corriam para a defesa, para impedir que alguém a recebesse livre, dentro da área. Ficava um enorme vazio no meio-campo. Parecia outro esporte.

Impressiona-me como quase todas as regras continuam atuais e corretas, já que foram definidas em 1863, na criação da Liga Inglesa, oficialmente a primeira do mundo. Contam que tudo foi resolvido em um pub, com muita cerveja. Duas sábias decisões foram tomadas, o tamanho do campo e o número de jogadores de cada lado. Por causa da enorme velocidade atual, muitos acham que o campo ficou pequeno. Discordo. Penso que antes é que era grande. Havia enormes espaços.

Porque 11? A turma da cerveja deve ter pensado que, além do goleiro, haveria cinco duplas em cada time, formada por dois zagueiros, dois laterais, dois médios (volantes), dois meias e dois atacantes. Tudo simétrico. O goleiro ficou sozinho, solitário. Deve ser por isso que existe a fama de que todo goleiro é esquisito, exibicionista.

A simetria é uma obsessão do ser humano desde as cavernas. Seria uma expressão da dualidade humana, dividido entre o bem e o mal, entre a razão e a paixão, entre o princípio do prazer e o da realidade. Seria uma maneira de dominar os instintos e de conciliar os opostos.

Uma das funções dos treinadores e dos sistemas táticos é reprimir os desejos individualistas e valorizar mais o coletivo. Por outro lado, o sentimento mais presente na busca do craque pelo sucesso é a ambição de ser o melhor.


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