Folha de S. Paulo


Festival de chavões

No sábado, a vitória do Barcelona sobre o Atlético de Madri por 2 a 1 foi uma aula sobre como jogar bom futebol de dois representantes de estilos bem diferentes.

O Barcelona é uma equipe compacta, que joga com os zagueiros adiantados, que tenta recuperar a bola aonde a perdeu, que troca muitos passes, que joga a maior parte do tempo no campo adversário, que raramente cruza a bola na área para contar com a sorte e que, com as chegadas de Neymar e de Suárez, passou também a ser um time de velocidade nos contra-ataques.

O Bayern e o Real Madrid, dois outros timaços do futebol mundial, por terem atacantes altos e ótimos cabeceadores (Cristiano Ronaldo, Benzema, Bale, Lewandowski e Müller), fazem também muitos gols em jogadas aéreas.

O Atlético de Madri é o maior representante dos times que, mesmo sem craques consagrados e que não fazem parte da lista dos melhores do mundo, disputam, com chances de ganhar, títulos nacionais e até a Liga dos Campeões da Europa. Contra o Barcelona e outros grandes times, associa a forte marcação na saída de bola do adversário, sempre com dois ou três jogadores pressionando quem vai recebê-la, com a marcação mais recuada, com oito ou nove bem posicionados e próximos à área. O time sofreu apenas dez gols em 22 jogos pelo Espanhol.

Barcelona, Bayern, Real Madrid e Corinthians, em vez de atuarem com dois volantes, um ao lado do outro, e um meia de ligação pelo centro, jogam com apenas um volante e um armador de cada lado, que defendem e atacam. Rakitic e Iniesta não são volantes nem meias, são meio-campistas que atuam de uma intermediária à outra.

O sistema tático do Barcelona, com três no meio e três na frente, só funciona muito bem porque a equipe marca por pressão, não deixa o adversário jogar e é muito compacta, com pouca distância entre os dez jogadores. Essa é uma vantagem coletiva sobre o Real Madrid, que não consegue fazer o mesmo. Se o Flamengo quiser atuar bem no 4-3-3, seguindo o modelo no Barcelona, após o estágio de Muricy no time catalão, precisa ter os jogadores próximos um do outro.

Apesar de algumas tímidas mudanças, o futebol brasileiro continua refém da divisão que houve, há muito tempo, no meio-campo, entre os volantes que marcam e um único meia de ligação pelo centro, de quem se espera um passe espetacular para o centroavante fazer o gol. É o que querem ver Ganso fazer na estreia do São Paulo na Libertadores. Se não fizer isso e o time não ganhar, será duramente criticado, mesmo que jogue muito bem. É o mesmo raciocínio simplista sobre os centroavantes, que vivem em função do gol, como diz o chavão.

Sempre que recomeça a Libertadores, volta o festival de clichês, como os de que "Libertadores é um campeonato diferente", que "os times brasileiros precisam ter jogadores que falam espanhol para conversar com o árbitro", que "os jogos são muito mais corridos e brigados", que "os árbitros marcam menos faltas", que "fulano tem espírito de Libertadores, e sicrano não tem", e tantos outros chavões que mediocrizam e dificultam a evolução dos times sul-americanos.


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