Folha de S. Paulo


Falar ou fazer, eis a questão

Penso que os elencos deveriam ser formados por uns 16 titulares, mais ou menos do mesmo nível, que se revezariam, sendo que alguns jogariam bem em mais de uma posição, além de uns sete a 11 reservas, com preferência para os formados na base, que entrariam quando fosse necessário e em jogos já decididos ou com menos importância. Os que se destacassem passariam a fazer parte da turma dos 16.

O Atlético-MG, se mantiver todos os titulares, inicia na frente, entre os brasileiros, na Libertadores. O time possui agora um bom reserva para a zaga, Erazo, o que não tinha no ano passado.

Com Levir Culpi, a equipe atuava com os zagueiros adiantados, pressionava mais, mas também sofria muitos contra-ataques, com lançamentos nas costas de seus defensores. Com Aguirre, o time, quando perder a bola, vai marcar mais atrás, com duas linhas de quatro. Sai o Galo Doido, e entra o Galo Seguro.

Para jogar com os zagueiros adiantados, é necessário que eles sejam rápidos, que a equipe pressione no meio-campo para não deixar o adversário trocar passes e fazer lançamentos longos nas costas dos defensores e que o goleiro saiba jogar bem fora do gol.

O Corinthians começa a se reconstruir com as contratações de Willians e de Guilherme. Se Tite mantiver o sistema tático, Guilherme deve atuar no lugar de Vágner Love, e Willians, no de Jádson, como fez no Cruzeiro, embora tenham características bem diferentes. O Corinthians, campeão do ano passado com folga, e os três melhores times do mundo (Barcelona, Real Madrid e Bayern) atuam com apenas um volante e com dois armadores que atacam e defendem, em vez de jogarem com dois volantes, um ao lado do outro, como fazem quase todas as outras equipes.

O Grêmio perdeu dois bons defensores titulares (Erazo e Galhardo) e continua sem um atacante mais agressivo, bom finalizador, para atuar próximo a Luan, o que não significa que tenha de ser um típico centroavante.

O Palmeiras parece um novo rico, que compra de tudo, os bons e os ruins. Não chegou nenhum ótimo reforço para melhorar o time titular. A melhor contratação do Palmeiras, desde o ano passado, é a de seu estádio, quase sempre lotado por sua vibrante torcida. Isso dá mais chance de vitória.

O São Paulo perdeu Pato, que, embora não tenha o grande talento que ele e muitos acham que tem, era um dos principais jogadores. Em compensação, contratou um técnico que organiza muito bem suas equipes.

Ao contrário de Carlos Osorio, que parecia falar de futebol muito melhor do que fazia, Bauza parece fazer muito melhor do que fala. Só agora vou conhecê-lo melhor.

Bauza lembra-me fisicamente o grande ator de cinema Jack Palance, que eu admirava muito na juventude. Os dois são altos e possuem um rosto áspero, de pedra. Transmitem segurança, austeridade e competência.

Na coluna anterior, escrevi que os times brasileiros não conseguem formar bons elencos sem gastar muito. Mais do que isso, mesmo gastando muito, não conseguem formar bons elencos. Na Libertadores, mesmo quando enfrentam adversários com pouco prestígio, jogadores desconhecidos e com investimento infinitamente menor, não há diferença técnica.


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