Folha de S. Paulo


A seleção não é um estorvo

Por causa da corrupção, no país, na Fifa, na CBF e nas relações esportivas, como mostrou a gravação de um conversa entre dirigentes do São Paulo, por causa das derrotas da seleção nas duas últimas Copas do Mundo, principalmente o 7 a 1, por causa da ausência de maior qualidade técnica, por causa da presença de nossos melhores jogadores na Europa, por causa da saudosismo ao comparar o momento atual com os melhores do passado e de achar que tudo de antes era superior e por causa de tantos outros motivos, existe uma desilusão, um pessimismo em relação à seleção e ao futebol brasileiro.

Mas discordo de que as seleções do Brasil e de outros países tenham hoje pouquíssima importância, de que elas só prejudicam o futebol, por tirar os jogadores dos clubes, que pagam altíssimos salários, de que o torcedor não quer mais saber de seleção e de que os atletas brasileiros não têm prazer de atuar pela seleção por serem ricos, famosos, e não precisarem tanto das seleções para manter o prestígio e porque os melhores times do mundo, na Europa, são superiores às seleções de seus países.

O ser humano, ao mesmo tempo em que sonha em ultrapassar as fronteiras, seus limites e se tornar um cidadão do mundo, possui o prazer e o orgulho de pertencer a seu bairro, cidade, Estado, país, e de vibrar com sua seleção. Fernando Pessoa escreveu que o rio que passa por sua aldeia é o rio mais bonito do mundo, porque é o rio que passa por sua aldeia.

Fernando Pessoa me lembra de Argel Fucks, técnico do Internacional, uma estranha associação. Este, questionado no programa "Bate-Bola", do canal ESPN Brasil, se fica incomodado ao ser rotulado como um treinador apenas vibrante, e não como um estrategista, moderno, retrucou que conhece e utiliza todos os sistemas táticos que existem no futebol. É o mesmo raciocínio de Dunga, de que tudo está na internet, como se o conhecimento se restringisse aos sistemas táticos e a alguns lugares-comuns.

Voltando a Fernando Pessoa, sem querer diminuir o conhecimento de Argel e do pipoqueiro que fica em frente ao estádio, se ainda existe pipoqueiro em frente ao estádio, até o pipoqueiro em frente ao estádio sabe desenhar na prancheta todos os sistemas táticos.

CAMPEÃO DO MUNDO

Quando ler esta coluna, a maioria já conhecerá o campeão do Mundial de Clubes.

O Barcelona, com todos os seus titulares, é muito superior ao River Plate. No entanto, o River se parece com o Corinthians campeão do mundo. Tem uma grande dificuldade para dominar e vencer os adversários inferiores, como aconteceu contra o Hiroshima, mas é difícil de ser batido pelos superiores, mesmo sendo o Barcelona.

Hoje, a diferença entre Barcelona, Real Madrid e Bayern e as melhores equipes sul-americanas é enorme, muito maior que a entre Liverpool e São Paulo e entre Chelsea e Corinthians.

Liverpool e Chelsea foram melhores, mas eram muito inferiores a Barcelona, Real ou Bayern. Não foram zebras as vitórias de São Paulo e Corinthians.

Por causa de um único jogo, se o River for campeão, não se tornará uma grande equipe do futebol mundial nem o Barcelona deixará de ser o melhor time do mundo.


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