Folha de S. Paulo


Canalhices e mistérios

O Palmeiras, incendiado pela torcida, foi melhor, mesmo com tantos chutões, e ainda fez um belo gol em uma troca de passes. O Santos, mais uma vez, mostrou que não é nem nunca foi um ótimo time, pois só atua bem em casa.

As estatísticas demonstram, em todo o mundo, que as equipes de casa ganham muito mais que os visitantes, mesmo quando há equilíbrio técnico. Os jogadores correm mais e atuam melhor, enquanto os visitantes ficam acuados, inibidos, ainda mais se os torcedores estão próximos. Criou-se também um chavão, incorporado à alma dos técnicos e dos atletas, de que o empate fora é bom, o que desestimula o visitante buscar a vitória. Até os árbitros costumam beneficiar a equipe da casa, o que não foi o caso de quarta-feira.

Há exceções. Quando existe uma desavença entre torcedores e atletas, estes, com medo de errar, se inibem diante da própria torcida.

Tudo isso mostra a enorme importância dos fatores emocionais, que muitos ignoram, como se fosse uma fraqueza dos jogadores, uma frescura.

A conquista do Palmeiras lembrou-me a anterior da Copa do Brasil, em 2012, quando o técnico era Felipão, que me lembra de Mano Menezes, de Marin e da Copa de 2014.

No dia 14 de outubro de 2012, domingo, escrevi uma coluna fictícia com o título "Mano no divã". Mano falava ao psicanalista de sua preocupação em perder o cargo de treinador da seleção, já que Felipão estava livre e tinha sido nomeado assessor do Ministério do Esporte, o que ninguém entendeu. Naquele ano, o Palmeiras tinha sido rebaixado à Série B e, ao mesmo tempo, campeão da Copa do Brasil. Após o título, Felipão pediu demissão.

No mesmo dia da coluna, recebi um telefonema do então presidente da CBF, José Maria Marin, para minha grande surpresa. Eu nunca tinha conversado com ele e, muitas vezes, o criticara. Ele, ansioso, falou de várias coisas desconexas. A ligação caiu, e ele não ligou novamente. Achei muito estranho e fiquei bastante curioso. Será que queria falar de Felipão e Mano Menezes e/ou pedir minha opinião? Suspeitei que Marin já tivesse contratado ou sondado Felipão, sem Mano Menezes saber.

Hoje, tenho certeza. Soube, recentemente, de uma fonte 100% segura, que Felipão entrou no apartamento de Marin, quando Mano Menezes ainda era o técnico. Alguém do prédio fez uma selfie com Felipão e enviou a amigos e a Mano.

Marin está em prisão domiciliar, e os corruptos do Brasil e de todo o mundo, acusados de assaltarem o futebol, estão sendo processados e/ou presos. É necessária uma limpeza de nomes e na estrutura do futebol, que facilita a corrupção. A sujeira tem de ir para o lixo, e não para debaixo do tapete.

Sinto falta também de investigações profundas de outros fatos da história do futebol, como os detalhes da reunião que teria ocorrido entre o ditador Médici e os dirigentes da antiga CBD, que resultou na saída de Saldanha antes da Copa de 1970; se Ronaldo teve uma convulsão ou um piti antes da final do Mundial de 1998; qual foi o conteúdo da palestra de Felipão antes do jogo contra a Alemanha; e se Dona Lúcia existiu ou foi uma criação da comissão técnica para atenuar as críticas após o 7 a 1.


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