Folha de S. Paulo


Incertezas

Este é um momento de enorme tristeza e de incertezas no mundo. E também no futebol.

No primeiro tempo do clássico, o Brasil não jogou nada. A Argentina foi superior, fez um gol e poderia ter feito outro.

No segundo, com a saída de Ricardo Oliveira, que tocou duas vezes na bola, o Brasil melhorou, mas só teve uma chance, a do gol.

O técnico Tata Martino, com as suas substituições, acabou com as esperanças de vitória da Argentina, ao colocar reservas dos reservas, ainda sem condições de jogar pela seleção do país.

Com exceção dos belos lances individuais de Di Maria, foi uma partida fraca, sem brilho individual e coletivo. Se Messi não jogar e se Neymar estiver apagado, como aconteceu nesse jogo, é o futebol que veremos das duas seleções na maioria das partidas.

Críticos de todas as áreas costumam opinar mais pelo que gostariam de ver, pelo que imaginam e pelo ideal do que pelo que viram, pelo que se poderia fazer de diferente naquele momento e pela realidade. Existem comentaristas que têm sempre a mesma referência, que é a dos melhores instantes do futebol brasileiro.

Temos de conhecer, de aprender com o passado, mas sem repeti-lo.

Isso não significa que não possamos desejar um futebol de mais qualidade.

O ideal seria que o Brasil tivesse dois Neymares ou, além dele, mais uns dois jogadores excepcionais, de nível intermediário entre Neymar e os outros, como Neuer, Müller, Schweinsteiger, Kroos, Yaya Touré, Iniesta, Busquets, Di Maria, Suárez, Ibrahimovic, Lahm e outros.

Citei cinco alemães que estiveram na Copa do Mundo. O ideal seria que o time alternasse as jogadas individuais e em velocidade com a troca de passes e o domínio da bola e da partida.

O ideal seria que houvesse mais organização, que os técnicos e os elencos fossem formados para todo o ano e que o presidente da CBF pudesse viajar sem ter medo de ser preso. O ideal seria que ele saísse, e entrasse outro que não tivesse nada a ver com ele e que fosse competente.

As Eliminatórias estão no início, mas já deu para perceber, o que era esperado, que existem umas seis seleções próximas tecnicamente, com boas condições de se classificarem para a Copa. Alguma vai sobrar.

As possibilidades de o Brasil ou a Argentina ficarem fora do Mundial são mínimas, porém não seriam nenhum absurdo.

Chile e Colômbia fizeram um jogo melhor que Brasil e Argentina. A Colômbia teve mais chances de gol, mesmo em Santiago. O Chile mostrou a mesma organização, mas não teve, desta vez, a vibração, a loucura habitual. Passar a ser favorito pode fazer mal ao Chile. Não estavam acostumados.

O Equador, além da vantagem da altitude quando joga em casa, tem, há muito tempo, uma boa equipe, cada dia melhor.

Outras seleções sul-americanas evoluíram, e muitos ainda não perceberam. Temo, em um futuro breve ou longo, que a história conte que, no passado, havia duas seleções na América do Sul, Brasil e Argentina, cheias de craques e muito melhores que as outras, mas, por causa da desorganização, da corrupção, da soberba e da evolução de outras equipes, passou a haver um equilíbrio técnico. Será que o futuro já chegou? Temos de ficar atentos.


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