Folha de S. Paulo


Grito de afirmação

A história não é dividida, rigidamente, entre o início e o fim de algo ou de uma época e o começo de outra. Os fatos e as situações, às vezes opostas, contraditórias, acontecem simultaneamente. Assim como no envelhecimento, não percebemos as progressivas transformações. De repente, levamos um susto.

Ao mesmo tempo em que ficaram escancaradas a corrupção, em todo o mundo, e a queda do futebol brasileiro, após o 7 a 1, muitas coisas boas têm acontecido, lentamente, dentro e fora de campo.

Apesar da renegociação da dívida e das contrapartidas dos clubes não terem sido as esperadas, devem melhorar a organização e diminuir os absurdos gastos, pois, se não cumprirem as obrigações, os clubes poderão ser punidos, até com o rebaixamento. O Bom Senso F. C. tem dado boas sugestões para melhorar o calendário. A Universidade do Futebol, criada em 2003, tem discutido, pesquisado e proposto soluções.

Foi feito um pacto, com a presença de 20 empresas que patrocinam o esporte brasileiro, para exigir transparência e integridade na gestão da CBF, das federações e dos clubes. O mesmo já aconteceu, recentemente, na Fifa, após os escândalos. As empresas estão preocupadas com suas marcas e com o lucro, o que também traz benefícios ao esporte. As razões econômicas são, geralmente, as mais importantes nas mudanças que ocorrem no mundo.

Com a prisão de dirigentes da Fifa, os corruptos vão pensar duas vezes antes de cometerem falcatruas. Aumentaram também as matérias investigativas feitas pela imprensa, sobre a promiscuidade e a desorganização do esporte.

No campo, o futebol brasileiro tem melhorado na maneira de jogar, embora nem sempre isso seja claro e habitual. O São Paulo, na quarta-feira, foi um time ultrapassado, com uma turma no ataque, outra na defesa e um enorme buraco no meio-campo, ainda mais contra os rápidos e habilidosos jogadores do Santos. O problema principal não foi escalar cinco jogadores com características ofensivas, e sim não saber juntá-los. O Corinthians ataca com cinco e é ótimo na marcação.

Corinthians e Atlético-MG, as duas melhores equipes do Brasileirão, jogam um futebol moderno, bonito e eficiente. Está furado o conceito de que o Corinthians é apenas um time pragmático, sem brilho.

O Atlético-MG, em casa, pressiona em bloco, com os zagueiros adiantados, para não deixar espaços entre eles e o meio-campo. Por outro lado, aumentam os espaços nas costas dos defensores. Nenhuma estratégia é a ideal. O Corinthians vai tentar se aproveitar disso, com rápidos contra-ataques.

O Corinthians é um time também compacto, mas que marca com os zagueiros na intermediária, na mesma distância da grande área e da linha de meio-campo, deixando menos espaços nas costas dos defensores e entre os zagueiros e os volantes.

O Atlético-MG vai atuar como se fosse o jogo do título, mesmo sabendo que, se vencer, continuarão mínimas as chances de ser campeão. Para o Galo, o jogo é um alento para o "Eu acredito" e um grito de afirmação, para mostrar e provar que só não está junto com o Corinthians na tabela por detalhes.


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