Folha de S. Paulo


Bom senso virou utopia

Hoje conheceremos os finalistas da Copa do Brasil. Os três melhores times do Brasileirão estão fora. Palmeiras e Fluminense se equivalem. Os dois times são fracos. O Palmeiras, apesar de ter dois atacantes velozes e habilidosos (Dudu e Gabriel Jesus) e um armador de bom passe (Zé Roberto), é o campeão dos chutões e dos gols de bolas aéreas.

Zé Roberto, durante a carreira, foi bem em todas as posições em que jogou. A melhor foi a de segundo volante. Em 2006, estava na seleção da Copa. Mesmo assim, no Palmeiras, às vezes, fica na reserva ou joga de lateral, enquanto o time costuma atuar com dois volantes sem nenhuma habilidade.

Pela pouca qualidade que mostrava durante os jogos, não entendia o Fluminense entre os quatro primeiros no Brasileirão. O time despencou na tabela, antes de Ronaldinho chegar, e colocaram a culpa no jogador. Com Eduardo Baptista, melhorou, mas, contra Cruzeiro e Atlético-PR, o time foi muito mal.

O Santos está quase na final, pois ganhou fora, por 3 a 1. Se não fosse o fraco início do Brasileirão, o time estaria muito melhor na tabela. Dorival Jr. arrumou a defesa. Como é bom ver o veterano Renato jogar. Raramente, erra um passe. Nunca dá a bola para o companheiro marcado.

O São Paulo, quando tem Pato, Ganso, Michel Bastos e Luis Fabiano (ou Alan Kardec), é um time forte para o nível do Brasileirão, apesar de os zagueiros e volantes serem fracos. Precisamos redescobrir os talentos de Pato e Ganso. Eles foram tratados, no início, como grandes craques, sem terem sido. Ultimamente, passaram a ser considerados jogadores comuns, razoáveis, bons. Ambos nos iludiram e nos desiludiram. Não são uma coisa nem outra. São excelentes.

No Brasileirão, o Corinthians tem 20 ou mais pontos acima da turma que luta por uma vaga na Libertadores. A diferença técnica é enorme. Apesar de várias dessas equipes tentarem jogar um futebol moderno, o nível técnico é baixo.

Nos anos 1960 e 1970, os melhores times e jogadores que atuavam no Brasil eram superiores aos melhores da Europa. Hoje, a realidade é outra. O Brasileirão tem nível técnico de segunda divisão em relação às melhores equipes do mundo, o que não significa que todos os clássicos europeus são ótimos. Manchester City e Manchester United fizeram um jogo ruim, pior do que muitos do Brasileirão.

Alguns comentaristas, por convicção, por querer valorizar nossos campeonatos e pelo entusiasmo com o Brasileirão, perdem o bom senso e as referências.

Escutei alguns disparates, como os de que o Corinthians está no mesmo nível de Barcelona, Real Madrid e Bayern, que Renato Augusto, um dos candidatos a melhor do Brasileirão, deveria estar entre os 23 melhores da Fifa, que Douglas Costa poderá estar no mesmo nível de Neymar no Mundial de 2018, e que Careca, excepcional centroavante, convidado para a integrar a comissão técnica do Brasil nos dois próximos jogos, é superior a Cristiano Ronaldo.

O bom senso está cada dia mais distante. Tornou-se algo inatingível, uma utopia.


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