Folha de S. Paulo


Campeão de amistosos

Os que leem regularmente minhas colunas devem ter percebido que, na quarta-feira, por descuido da Redação, um texto antigo foi publicado, no lugar do que eu tinha enviado. Acontece, até nos melhores jornais.

Torcedores, jornalistas e até a turma do oba-oba não deram nenhuma importância à goleada e à boa atuação do Brasil contra os EUA. Se houvesse um campeonato de amistosos, o Brasil seria campeão.

Kaká não jogou porque estava contundido. Ocorre na seleção o mesmo que acontecia no São Paulo, com muitos elogios a Kaká, não por suas atuações, mas por ser um atleta exemplar, disciplinado e um conselheiro, dentro e fora de campo, dos mais jovens. É o Tio Kaká, querido por todos.

Essa relação, de professor e aluno, que já existe entre treinadores e jogadores, que só fazem o que o mestre manda, tem a ver com nossos fracassos. A CBF, os clubes e também o Bom Senso FC deveriam orientar e estimular os atletas a serem mais profissionais, menos dependentes, menos submissos e menos infantis.

Contra os EUA, ficou evidente, mais uma vez, que o Brasil tem, do meio para frente, vários jogadores habilidosos, dribladores e velozes. Quando um pegava na bola, disparava com ela. Às vezes, funciona muito bem, quando há enormes espaços.

Isso já ocorria na primeira passagem de Dunga, com Kaká e Robinho. Diziam que era o melhor contra-ataque do mundo. O fato ajuda a explicar as boas atuações em amistosos. Nas partidas oficiais, os adversários se preparam para enfrentar os endiabrados individualistas.

Esse é o típico jogador produzido no Brasil, com graduações diferentes. Os melhores estão na seleção. No Brasileirão, há muitos, quase sempre com pouca técnica e lucidez. Neymar é um fenômeno porque, além dessas qualidades, tem técnica e criatividade exuberantes.

O ideal seria juntar jogadores com características distintas e que se completam. Isso é tão ou mais importante que o tempo para treinamento. Alguns atletas se entendem rapidamente, pelo olhar.

Lucas Lima teve atuações corretas, sem brilho. Mas, por ser muito mais um meio-campista que um meia-atacante, se movimentar bastante, atuar de uma intermediária à outra e gostar de ficar com a bola, ele, ou outro com seu estilo, preenche a falta que tem a seleção, de um terceiro jogador de meio-campo.

A seleção, com Felipão e na maioria das partidas com Dunga, antes dos dois últimos amistosos, tinha um meia bem aberto de cada lado, um centroavante, um meia ofensivo próximo dos três (na prática, quatro atacantes), um volante muito recuado e só um armador (contra a Alemanha, na Copa, foi Fernandinho), perdido, isolado em um enorme espaço, já que os defensores atuavam muito atrás, e os da frente, muito adiantados. Se jogar assim, provavelmente, virão novos fracassos.

Espero que Dunga tenha visto o jogo entre Corinthians e Grêmio, uma ótima partida coletiva, o que tem ocorrido em outros confrontos no Brasileirão. Pena que, na média, o nível individual seja fraco.


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