Folha de S. Paulo


Os otimistas prepotentes

Fora Neymar, o Brasil tem, no mínimo, dois bons jogadores em cada posição. Convocar e escalar um ou outro faz pouca diferença. O que falta é um excepcional meio-campista e um excepcional atacante. As convocações de Kaká, que atua nos Estados Unidos, e de Neymar, com caxumba e suspenso das duas primeiras partidas pelas eliminatórias, fazem parte do pacote comercial.

Na entrevista ao Bola da Vez, da ESPN Brasil, Gilmar Rinaldi, diretor de seleções da CBF, ao ser perguntado se há risco de o Brasil não se classificar para a Copa, bateu no peito e respondeu: "Sou um vencedor", típico de um otimista prepotente.

As chances de o Brasil não ir ao Mundial são pequenas, pela importância que tem e pela qualidade técnica (está ruim, mas nem tanto), mas o risco existe. Se o Paraguai, que não faz parte da lista das cinco melhores seleções, jogou muito melhor o segundo tempo e eliminou o Brasil da Copa América, não seria absurdo.

É preciso separar o otimista do otimista prepotente. O otimista costuma analisar todas as possibilidades e concluir que as chances de vencer são muito maiores que a de perder. O otimista prepotente, em qualquer situação, acha que o que ele pensa e deseja é a verdade e o que vai acontecer. É a onipotência do pensamento.

Da mesma forma, o pessimista é diferente do pessimista depressivo. O pessimista, como o otimista, analisa e deduz que as chances de ganhar são pequenas. É realista. O pessimista depressivo tem certeza que sempre vai dar errado.

Gilmar disse que tinha cinco nomes para técnico da seleção (Tite, Dunga, Marcelo Oliveira, Abel e Muricy) e que escolheu Dunga por conhecê-lo bem, por saber de suas qualidades e por ter feito uma boa campanha na passagem anterior. Tudo isso é válido, mas não o argumento de que ele sabe tudo da seleção, por ter participado desde as categorias de base. Isso é balela.

O interessante é que Gilmar, uma pessoa tão diplomática, sociável, de boa conversa, um otimista prepotente, tenha escolhido um técnico sisudo, rude, realista, que não faz média com ninguém.

Antes de ser dirigente da CBF, Gilmar foi diretor do Flamengo e, quando saiu, tornou-se empresário de Adriano e de outros jogadores. Ele falou que foi um pai para o atacante. O que mais Adriano precisava, e não teve, para salvar sua carreira, era assumir a condição de doente, de alcoólatra, e ter um tratamento especializado.

Sou um crítico do futebol que se joga no Brasil, nos últimos tempos, mas não sou um pessimista, muito menos um pessimista depressivo. Há coisas boas acontecendo. Melhoraram os gramados, e aumentaram a média de público e o tempo de bola em jogo. Diminuíram as faltas, os chutões, os tumultos e a falta de respeito. As investigações e punições aos corruptos e as contrapartidas que os clubes terão de dar em troca do refinanciamento da dívida podem contribuir para a melhoria do futebol.

Um dos símbolos da recuperação de nosso futebol são os dois gols do Grêmio, contra o Atlético-MG, pela beleza da troca de passes, desde a defesa, comandada pelos dois bons volantes, Walace e Maicon.


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